Macaco

De onde veio a vontade de compor e tocar samba?

Não sei giba, de onde vem.  Meu pai escutava Fagner, Reginaldo Rossi , Renato e seus Blue Caps e muito Roberto Carlos. Tinha um disco do Martinho – Canta canta minha gente –  lá em casa e só.  É muito recente esse lance com o samba.  Sempre escutei de tudo e tocava em bandas de punk- rock e reggae.  Aí descobri  Chico Buarque e o seus sambas, que são bem próprios. Chico meio que abriu a pesquisa voltada pro samba e pra caricatura da malandragem.

De onde veio a vontade de compor e tocar samba?

Não sei giba, de onde vem.  Meu pai escutava Fagner, Reginaldo Rossi , Renato e seus Blue Caps e muito Roberto Carlos. Tinha um disco do Martinho – Canta canta minha gente –  lá em casa e só.  É muito recente esse lance com o samba.  Sempre escutei de tudo e tocava em bandas de punk- rock e reggae.  Aí descobri  Chico Buarque e o seus sambas, que são bem próprios. Chico meio que abriu a pesquisa voltada pro samba e pra caricatura da malandragem.

 

Aqui em Recife o samba existe há muito tempo, embora poucos saibam. Temos grandes exemplos disso no projeto – Mesa de Samba Autoral.  O que faltou, ou falta, para que estes nomes venham a aparecer? Afinal, antes tarde do que nunca…

Ciro monteiro tem um disco que é uma verdadeira Jam session de samba – no improviso. (http://rapidshare.com/files/103565507/CyroDilermanoTelecoTecoOpus1-zl.zip?directstart=1)

Junto com Dilermando Pinheiro. O nome do disco é Teleco Teco Opus nº  1 e o Dilermando apareceu na época, fez algum sucesso e sumiu do mapa. Não foi o caso do Cyro Monteiro que é lembrado até hoje. Acho que o buraco é bem maior. Aparecer nem é tão difícil, difícil mesmo é se manter como um nome na música que será lembrado por um bom tempo.  Pelo menos aqui em Recife eu nunca ouvi falar do nome do Dilermando – música é assim,  o mercado é incerto e o compositor nem sempre tem o carisma e a versatilidade de um band -leader.  O Roberto mesmo – tem um disco do Roberto de 1976 (http://www.megaupload.com/?d=MQ3W23N8) – a música Pelo Avesso que é  foda, foi feita por uma tal de Isolda.  Ninguém sabe quem é… pelo menos da nossa geração.

A Mesa de Samba Autoral  conquistou seu espaço aqui em Recife porque é um projeto de uma originalidade fantástica. Se transformou num palco para compositores que não necessariamente fazem parte da mesa  .O clima é de descontração e de respeito ao samba. Se ainda não “apareceu” nacionalmente, acredito eu que será sempre lembrado por todos nós pela proposta heróica de apresentar composições completamente desconhecidas  do público e fora do mainstream do samba carioca.   A “Mesa”  tem compositores que deixa muita gente de queixo no chão – Paulo Perdigão já foi gravado pelo Bezerra, Rui tem sambas muito bonitos. Dona Selma tem pra mais de 400 sambas escritos, saca ? A vontade de fazer é muito maior que a vontade de ser legitimado, acho que é por isso que é tão belo.

O fato de Pernambuco ser a Terra do Frevo pode contribuir diretamente para que o samba recifense nunca decole? Ou este jargão já é ultrapassado?

Acho que Recife ainda é capital do frevo por que este foi um ritmo que os pernambucanos desenvolveram, problematizaram e levaram adiante. Edu lobo tem alguns frevos, Caetano tem uns frevos muito bons também naquele disco “Muitos Carnavais” – (http://www.4shared.com/file/xPNNObhw/Caetano_Veloso_-_Muitos_carnav.html), mas não é o frevo rasgado daqui. O frevo daqui parece uma bomba, é muita explosão. Acho que isso só ajuda. Mas Recife é também a capital do Frevo por motivos turísticos. Só que quem chega aqui vai escutar de tudo, de samba ao rock ao brega.  Depois de Chico Science e Nação Zumbi a idéia de misturar ficou ainda mais evidente.  Só que Chico e Nação misturaram de tudo, menos o frevo. Pelo menos eu não lembro de ter escutado algum frevo ou releitura por eles. Se o samba de Pernambuco decola ou não, eu não sei. Mas os pernambucanos são bem respeitados lá fora – tem muito músico bom aqui e decolar é uma questão musical, mas também empresarial, de estratégia e etc…

Cavaquinho, trompete, violão…são paixões musicais diferenciadas ou oriundas da mesma fonte inspiradora?

É o gosto de tocar. Às vezes entro em crise com um instrumento e busco aliviar a tensão em outro. Depois eu volto pro tenso instrumento e já volto melhor, mais disposto.

Muitos cronistas musicais gostam de utilizar o termo “renovação” para caracterizar coisas novas. Em relação ao samba, muitos tentaram mudá-lo e terminaram desvirtuando demais o sentido da coisa. Sou daqueles que penso que quanto mais tradicional for o samba, melhor ele é, ou será. Como amante, compositor e instrumentista que és, qual a sua opinião sobre o termo? Mestre Paulinho da Viola estava certo quando pediu: “não me alterem o samba tanto assim”?

Isso é bem pessoal – eu gosto de algumas situações, outras não. Tem um cara mesmo chamado Siri, percussionista – (www.myspace.com/siripercussion).  Ele é foda! Tira som de um fusca, brincando com o tempo da aceleração do motor do carro. Cria boas batucadas com instrumentos não convencionais.  Acho que o que o Paulinho quis dizer é que ele gosta do samba do jeito que é, sem firulas demais. Isso é um discurso de um determinado momento da vida pessoal de Paulinho que virou hit. Se você pegar um disco do Paulinho chamado “Nervos de Aço” –  (http://rapidshare.com/files/109039897/PaulinhoViolaNervosAco-zl.zip) , vai perceber que é muito moderna a concepção de duas músicas (Comprimido e Roendo as unhas) – Tem um cravo, tem um piano Rhodes fender – instrumento típico dos grupos de jazz pós 1970, característico do Herbie Hancock.(http://rapidshare.com/files/287568874/Herbie_Hancock_-_Head_Hunters.zip.html). Tem compassos loucos e são sambas, mas não aqueles sambas de um domingo de feijoada.  É bem mais introspectivo. Lembro que li uma entrevista que o Paulinho dizia que ele foi muito criticado por sambistas mais conservadores  pela concepção do disco. É muito difícil sair do seu lugar comum com elegância e agradar a todos.

Você tem um talento nato para escrever letras de músicas. Gosto muito do seu trabalho como compositor de samba, com letras irônicas, o que não é novidade no ramo, mas com um modo diferenciado de nos passar palavras, isto sim estava faltando. Dentro dos caminhos que o samba vem percorrendo durante todos estes anos, posso afirmar que o Samba de Breque é a sua maior vertente ao compor?

Não, não. Até  por que eu nem sou fã de samba de breque – só fiz “Sinuca de Bico”. (www.myspace.com/triopoucachinfra)   Quem tem um samba de breque foda é Paulo Perdigão. De breque mesmo – que para, fica contando uma história e tal. Bem divertido.  Eu faço samba com o que aparecer, um verso, qualquer coisa, eu saio seguindo. Gosto de mexer na música dos outros também, fazer paródia – é engraçado e você  exercita o lance de compor.

Já é possível viver totalmente de samba aqui em Pernambuco ou músico ainda sofre?

Eu acho que não. O músico tem de ser meio nômade mesmo, viajar, apresentar um trabalho pra várias regiões. Parado não pode ficar. Se quer ficar em casa e tal, tem de conciliar com outra profissão. No Pouca Chinfra mesmo temos bancários, operadores de som, professor de academia, biqueiro… tem até lutador de vale tudo. Enfim, um carrau de profissões dentro do samba – isso traz até um pouco do cotidiano de cada – eu acho interessante.

O samba é e sempre será o ritmo maior do nosso país. Por que ainda há tanta indiferença em relação aos compositores de qualidade e tanta coisa ruim estourando na mídia? Afirmo isto porque diversos nomes do samba ainda são totalmente obscuros e essas bandas de “música de batuque e letra melosa” (pagode é outra coisa e muito boa), vendem milhões. Hoje em dia isso virou lei no país?

Hoje em dia todo mundo pode fazer a sua própria mídia né  ? Não há mais críticos de música ou de arte, todos são legitimadores de trabalhos, curadores…  A mídia tem mania de espalhafato e conseguiu passar isso para os indivíduos. O que eu quero dizer é que muita gente se vende um tanto com o lance das mídias sociais. E ganham com elas.  Então, nós que participamos desse círculo, somos famosos  em potencial. Esse é um mercado. O mercado que chega para a população tem realmente muito do que nós chamamos de ruim , de mal gosto e também de efêmero.  Lembram um pouco às relações de amor e separação dos tempos modernos – “você leva pra cama, gosta, passa uns três meses nessa e acaba “ Até porque começo de namoro é maravilhoso! Digamos que vamos ter vários começos de namoro e nenhum casamento. É o que acontece, a música vira hit nacional por três meses, depois passa e ninguém lembra. O “rebolation” a galera já está esquecendo, daqui a pouco passa.

Qual a sensação de ter um projeto de gravação e divulgação aprovado depois de tanta luta em prol do samba de fato?

Nossa senhora, eu tava agoniado pra cacete. O ano de 2010 começou meio cinza pra mim. Era só expectativa com o tal projeto enviado ao Funcultura.  E  ao mesmo tempo segurança, por que poderia vir a não-aprovação, e aí ? Saca, se ficar também só agindo, só trabalhando se o governo te der um carvãozinho é ser muito covarde. Claro que tudo melhora, só que não dá pra fazer disso o seu porto seguro. Daí pronto, quase pirei – quem segurou as minhas pontas foram os meninos – Filipe olhava pra mim e dizia: “Meu irmão, sossega aí”.  Mas é o resultado de uma lombra massa – um tempo de amadurecimento e maturação das idéias perfeito – veio numa hora muito boa.

Na hora você compõe as músicas existe alguma mescla de estilos? Afinal, você tem outros projetos envolvendo samba (Inferninho Samba Orquestra), outro que é um verdadeiro “mix” de ramos musicais (Ínsula), além de ter sido integrante da Bande Ciné.

Tem, mas tudo é meio que voltado pro samba. Eu só consigo compor samba e só componho pra formação do “Pouca”. Só consigo imaginar minhas canções pro “Pouca”. Na “Inferninho” eu fico mais com a lombra de tocar e tal – até dei pra galera um samba novo que eu fiz, mas eu acho que não tem a ver com a estrutura.  Eu vejo o Pouca Chinfra como o meu projeto que construí junto com Ernesto, Fabrício, Felipe, Lucas temporal, Deco, Moab, Seu Lima, Vinicius Sarmento, Rafael Marques, Lucas Batera… Ainda passou pelo “Pouca” várias pessoas importantíssimas como Vicente Eduardo, Dedeco, Marcílio Flávio – o mineirinho, Rodrigo Samico e Ricardo Freitas. Vejo que tem muita coisa minha, dos meninos e todos aqueles que participaram de alguma forma. Na Ínsula e na Bande eu era mais músico, o que era ótimo porque eu aprendia muito sobre harmonia com Bruno Vitorino, contrabaixista da Bande Ciné. Filipe Barros (Bande Ciné e Ínsula) também é um cara bem ligado em tudo, compomos uma canção juntos, enfim.  Acho que o lance é você tocar com outras pessoas. Isso te proporciona muito conhecimento. São desafios de diálogo.

Citando Mestre Candeia : “O samba é lamento, é sofrimento, é a fuga dos meus ais”. Fazendo uma comparação contextual, podemos afirmar que samba é o blues brasileiro?

Acho que não. O Samba tem um rebolado que o Blues não tem.  Acho que o Blues tem um lamento bem maior do que o do samba.  Às vezes o samba fala de tristeza  e melancolia, mas o ritmo te remete a uma outra sensação. No Blues isso também acontece. Mas os instrumentos são outros, as pessoas, a língua… Enfim, encontramos elementos comuns e elementos díspares. Mas eu acho que banana é banana e eu gosto bem mais de samba do que de blues.

Musicalmente falando, me diga os três principais nomes que mais te emocionam e fazem seguir em frente, independente de estilos musicais.

Gosto muito do Trabalho de Johann Brehmer lá  de Olinda. Quem puder sacar o novo disco do Arabiando (www.myspace.com/arabiando) encontrará uma musica de Johann – Bolerando, o nome dela.  Ele faz coisas lindas, sinceras. O disco chegou  em minhas mãos e no mesmo dia eu não consegui dormir do prazer que era escutá-lo. Gravações Mombitamba Vol.2.

Paulinho da Viola, sempre.

E meu amigo Vinícius Sarmento que me abriu os olhos.

Por Gilberto Valle – Colunista da Revista Click REC