“Irmã Dulce” conta a emocionante história da mulher que, indicada ao Nobel, chamada em vida de “Anjo Bom da Bahia” e beatificada pela Igreja, nunca se importou com títulos. A história de uma mulher cujo único objetivo era confortar os necessitados, cuidar dos doentes, amparar os miseráveis – a qualquer custo, com a ajuda de quem fosse. Capaz de atravessar Salvador de madrugada para dar colo a um menino de rua ou de pedir verba a um político em pleno palanque, Irmã Dulce enfrentou inimigos externos – o preconceito, o machismo, os dogmas – e um interno: uma doença respiratória incurável. Passou por eles com obstinação, alegria, amor e fé e construiu uma obra que, até hoje, só cresce, como cresce a devoção por ela. O filme “Irmã Dulce” conta de forma verdadeira e emocionante a história de uma mulher que reúne três das nossas qualidades definidoras como brasileiros: fé, alegria e obstinação.
Bianca Comparato
Como se sentiu ao saber que viveria Irmã Dulce quando jovem?
Eu me senti lisonjeada primeiramente e, depois, desafiada. Quando soube que faria o papel, comecei a estudar muito a vida da Irmã Dulce e fui admirando cada vez mais a mulher que ela foi. Senti que era uma história que o mundo precisava ver e percebi que era um papel de grande responsabilidade. Eu me dediquei durante meses para compor cada gesto, a maneira de falar e, principalmente, entrar em contato com a fé; uma fé que transcende religião. A responsabilidade era grande e eu não queria decepcionar.
Como foi o laboratório para o papel? Você teve acesso a familiares e pessoas conhecidas de Irmã Dulce?
A pesquisa e a preparação foram essenciais para esse trabalho. Tive que me transformar para viver a Dulce, foi um trabalho de construção. Parei tudo e passei a me dedicar só ao filme quando o Vicente Amorim me disse que eu havia ganhado o papel. Comecei a pesquisa em novembro de 2013, ainda no Rio de Janeiro, junto com meu preparador pessoal, Sergio Penna, e minha mãe, Leila Mendes, que é fonoaudióloga. Em março, me mudei pra Salvador e comecei a preparação, que durou um mês. Além do trabalho com o Vicente e com a Maria Silvia, preparadora de elenco, o que mais me ajudou foi passar alguns dias no Convento do Desterro. Fazia todas as atividades junto com as irmãs e eu e Regina dormimos uma noite no claustro. Essa experiência mudou bastante minha percepção do que é ser uma serva de Deus. Descobrir a fé essencial para o papel, o coração do filme. Foi fundamental o tempo que passei na Bahia e dentro do convento.
O que você, que é jovem, conhecia sobre a vida de Irmã Dulce? Antes do filme, você tinha a dimensão da grandiosidade e popularidade da personagem?
Confesso que sabia muito pouco e que não tinha essa dimensão. Mas quando li o roteiro pela primeira vez me emocionei. Só pensava que precisamos de um mundo mais Dulce. É impossível não se emocionar com a história dessa mulher. Quando pisei em Salvador tive a real noção da sua popularidade. Tem Irmã Dulce em todos os lugares e no olhar das pessoas.
Como você vê o trabalho de Regina Braga?
Sempre admirei a Regina, que é uma das grandes atrizes desse país. E me sinto honrada em dividir o papel com ela. Vejo tudo como uma continuação. Nós tentamos nos complementar para que a passagem de tempo ficasse o mais natural possível. Como ela diz, somos dois corpos com uma só alma. Hoje somos amigas, passamos muito tempo juntas, ensaiamos, e visitamos as obras sociais da Dulce. A Regina é uma musa, uma mulher incrível.
Há algum fato curioso que descobriu sobre a Irmã Dulce durante a preparação para o papel?
A paixão da Dulce pelo futebol. Ela era torcedora do Ipiranga, jogava com os meninos na rua. Largou tudo quando se tornou freira.
Regina Braga
Como recebeu o convite para representar Irmã Dulce na maturidade?
Foi a produtora de elenco, Marcela Altberg, quem telefonou e me fez o convite para fazer o filme. Eu me espantei: “Eu, Irmã Dulce? Aquela freira da Bahia que ajudava os pobres?”. Não sabia quase nada dela. Desse telefonema até me ver dentro do hábito da Irmã, andando pelas ruas de Salvador, foi um caminho carregado de emoções. Aceitei e me entreguei.
Como os fiéis têm recebido o seu trabalho a partir do que já foi visto nas imagens divulgadas e no trailer?
Em Salvador a presença dela está em toda parte, todos têm alguma lembrança para contar. Isso é muito forte. O que mais me impressionou foi a gratidão que aparece no olhar dos que a conheceram. Ela é venerada. É santa, a primeira santa do Brasil. Irmã Dulce dos desprotegidos, dos abandonados.
Já havia tocado acordeão? Teve a necessidade de aulas para preparação ou não?
Tivemos algumas aulas de acordeão, o suficiente para entrar em contato com o instrumento, e poder representá-la tocando, sem tocar de verdade, porque é muito difícil aprender em pouco tempo. Adoro esse lado pop de Irmã Dulce e a alegria das músicas que ela tocava.
O filme é carregado de momentos de emoção. Algo te marcou de maneira especial durante as filmagens?
O processo de filmagens foi bastante duro, exaustivo, muitas vezes filmando em condições desfavoráveis, mas a disposição geral da equipe sempre foi a de superar as dificuldades. Esse “espírito Irmã Dulce” que tomou conta de nós foi a força que nos conduziu por esse trabalho tão marcante e enriquecedor.
Como foi trabalhar em parceria com a Bianca Comparato para criar a personagem?
Dividir a personagem com a Bianca foi uma experiência muito nova para mim. Gostei dela de cara: não nos conhecíamos pessoalmente, mas senti confiança nela desde o primeiro olhar. Do que pude acompanhar nas filmagens, achei o trabalho dela maravilhoso. Criamos uma cumplicidade estranha, apaixonadas as duas pela mesma pessoa. Chegando a Salvador, ela e eu fomos dormir no Convento do Desterro. Participar do cotidiano das freiras que lá vivem foi uma experiência inesquecível.
Gracindo Jr.
Como foi a preparação para interpretar Dr. Augusto? Fale um pouco sobre seu personagem, que é uma força masculina muito presente na vida da religiosa.
Dr. Augusto é pai de Maria Rita, nome de batismo de Irmã Dulce, e era formado em Direito, além de exercer a profissão de dentista. Era um homem muito respeitado em Salvador e o maior apoiador do trabalho social que sua filha realizava, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Foi um grande companheiro de sua filha, acreditando na sua fé e trabalho junto àqueles que precisavam de ajuda. Para conhecermos um pouco mais o Dr. Augusto, acompanhamos alguns parentes da família, que nos contaram as suas histórias e nos mostraram alguns exemplos do trabalho de Irmã Dulce e os resultados conquistados.
Fale um pouco sobre o papel do pai de Dulce para a reintegração da religiosa na Congregação. Já doente, ele participava ativamente do sofrimento da filha devido à exclaustração.
Até o fim da sua vida, aos oitenta e poucos anos, já fraco e adoentado, ele conseguiu o reconhecimento do trabalho realizado por esta mulher, já considerada uma Santa pelo nosso povo, junto ao governo estadual. Consegue ainda que ela seja readmitida ao Convento. No final de sua vida, Dr. Augusto reconhece a filha como santa.
Qual foi a cena mais marcante para você?
A cena que mais me emocionou foi quando Dr. Augusto entrega o documento conquistado depois de anos, que determina que sua filha, Irmã Dulce, seja readmitida como freira ao convento. Uma cena emocionante.
Qual é a importância de Irmã Dulce para você? Irmã Dulce é uma das personalidades mais importantes do nosso país, reconhecida pelo mundo por suas ações e sua luta pela igualdade dos seres humanos, reconhecida e recebida pelo Papa em duas visitas feitas ao Brasil. O processo para que seja reconhecida como santa está em andamento, aguardamos com fé.
Glória Pires
Você já conhecia a história da Irmã Dulce?
Conhecia a personagem Irmã Dulce, mas não o trabalho dela profundamente. Sabia que ela era uma mulher de uma força espiritual incrível. Conhecia um pouco do trabalho desenvolvido por ela na Bahia, mas durante as filmagens tive a oportunidade de ir às obras e é realmente uma coisa impressionante. Imaginar que aquela mulher tão pequenina, tão frágil fisicamente, fez tanta coisa, nos faz entender o que significa a força espiritual, que supera qualquer limitação física ou de outra ordem, como financeira.
Fale um pouco sobre sua personagem. Como foi a sua construção?
A mãe é sempre uma figura emblemática, que tem sempre um papel importante, para o bem e para o mal. No caso de Dulce, foi uma coisa maravilhosa. Sou kardecista e vejo ali claramente um caso de reencontro de amigos de outras vidas: a mãe, o pai, ela e a irmã – elas eram praticamente almas gêmeas. Tinha essa adoração tão grande uma pela outra, que a irmã acabou também sendo enterrada junto com ela. Foi feita uma exceção para que a irmã pudesse ser enterrada no mesmo lugar onde Irmã Dulce foi. Esse encontro de amor é uma coisa linda, e que permeou a vida dela. Esse amor em que ela foi criada, que ela recebeu em casa, ela levou, através da vocação católica, indiscriminadamente para todas as pessoas que necessitavam.
Elenco
Bianca Comparato / Regina Braga – Irmã Dulce
Sophia Brachmans – Irmã Dulce Criança
Lisandro Oliveira – João Criança
Amaurih Oliveira- João
Patrícia Oliveira / Zeca de Abreu – Irmã Emília
Alice Assef – Dulcinha
Caco Monteiro – Prefeito
Maria Salvadora – Mãe de Santo
Ícaro Vila Nova – Neco adolescente
Aicha Marques – Tia Madaleninha
Agnaldo Lopes – Dinael
Luiz Carlos Vasconcelos – Dom Eugênio Salles
Atores convidados
Irene Ravache – Madre Provincial
Glória Pires – Mãe de Dulce
Gracindo Junior – Dr. Augusto
Zezé Polessa – Dulcinha (irmã de Irmã Dulce)
Luiz Carlos Vasconcelos – Dom Eugênio Salles
Malu Valle – Madre Fausta
Marcelo Flores – Arduino
Renato Prieto – Repórter
Fábio Lago – Neco
Gloria Pires – Mãe de Dulce
*Com informações da assessoria
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