2015: A Quarta Onda do Feminismo


Certamente, futuramente, o século XXI será marcado como mais uma etapa do levante feminino

Nesse decorrer do século XXI diversas conquistas foram efetivas paras as mulheres, tanto no âmbito político, cultural, educacional ou econômico, o gênero feminino teve ainda mais apoio e visibilidade em grande parte do mundo. Espera! Mas nem tudo estão sendo apenas flores… Ainda falta muito para o século terminar e continuamos tendo bastantes reparações para salientar.


Com a mesma rapidez que o século iniciou favorecendo mais espaço político e políticas públicas para as brasileiras, decorrente da luta histórica dessas mulheres, também foi a mesma rapidez de tempo útil para esse favorecimento não continuar crescente. O enfrentamento insitucional para as desigualdades sociais, raciais, étnicas e das pessoas com deficiência está em ameaça, podendo retroceder a cada ano que viremos a gastar desse novo século.

Foto: Poliny Aguiar

Dando sequência a uma das conquistas do gênero feminino, no final dos anos 2010, o Brasil fez história com a vitória democrática da sua primeira presidenta mulher, Dilma Rousseff, que daqui por diante irei chamar de presidentA, com o artigo definido feminino “a”, ok? Bom,  parecia que agora as coisas só iriam melhorar, mas infelizmente só fomos mais atacadas pela própria imagem da presidenta, pelo gênero que ela carrega, no qual homens, e também mulheres, abusaram e abusam do machismo e sexismo para agredir a Dilma sem nenhum argumento político, sem nenhuma indagação; apenas violência gratuita e perseguição de gênero, que, por consequência revelam nitidamente os costumes discriminatórios enraizados nos brasileiros e TAMBÉM brasileiras quando o assunto é “poder, independência e visibilidade para as mulheres”.

Foto: Poliny Aguiar

No entanto, o fato é que no segundo governo de Dilma, a mesma acabou comprometendo a luta histórica de ascensão do gênero feminino, de igualdade e reparação, uma política que víamos muito além de uma conquista batalhada por séculos, era uma fonte de sobrevivência, orgulho, força e inspiração para as que lutaram, as que lutam e também para as que se beneficiaram da  Secretaria de Políticas Para Mulheres (SPM), criada em 1° de janeiro de 2003, no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e extinta em outubro de 2015, graças a uma suposta crise financeira em que a Rede Globo insiste instigar. Na verdade a SPM, assim como a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), no qual ambos os segmentos são historicamente violentados e tais reparações e garantia de melhor qualidade de vida são de responsabilidade da Nação, foi arremetida ao Ministério de Direitos Humanos, que hoje é chamado de “Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos”.

Foto: Poliny Aguiar

Pernambucanas se reúnem em convocatória extraordinária para debater sobre a SPM

E foi contra esse contexto que mulheres recifense tentaram alertar e assegurar sobre a importância da permanência da SPM e convocaram as mulheres que atuam em movimentos de Pernambuco para um ato público no dia 28 de setembro, no Marco Zero, local de lutas históricas e resistência do estado. A campanha foi aderida por todas e todos os brasileiros e também notícia nos principais jornais de Pernambuco, mesmo que não fosse surtir efeito, pois a unificação das secretarias das mulheres e igualdade racial ao Ministério de Direitos Humanos já estava deferida, essas mulheres mais uma vez foram às ruas para compartilhar o seu posicionamento quanto ao direcionamento da política no nosso país.


Seria o século XXI o estouro da 4º Onda do Feminismo? Vindo antes do ano corrente, dando sequência a 3º Onda Feminista, com empoderamento e comportamento das brasileiras, como também o manifesto “Fora Cunha”, a Marcha das Vadias e diversos outros acontecimentos a favor do feminismo, que, para o conhecimento geral, significam igualdade, em todas as instâncias, entre os gêneros, independente de cor, raça, orientação sexual e religiosa. Então… Estaríamos organizando, sem pretensão, mais um cenário de um novo feminismo?


No dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, 25 de novembro, manifestantes se aglomeraram em frente ao Shopping Boa Vista, que fica na principal avenida do centro do Recife, para prostestar contra o PL 5069/2013, do deputado Eduardo Cunha.

 

Resumo das Ondas do feminismo segundo Maggie Humm e Rebecca Walker

 

1º Onda do Feminismo:

A primeira onda teria ocorrido no século XIX e início do século XX, na Inglaterra e nos EUA, na qual se destaca o sufrágio feminino, resumidamente, e desencadeando outras lutas para o empoderamento das mulheres.

 

2º Onda do Feminismo:

Surgiu para descrever uma nova oxigenação do movimento, em que elas focavam não só às políticas, mas também no combate às desigualdades culturais e sociais.

 

3º Onda de Feminismo


A 3º Onda asseguraria toda a luta vinda da 1º, mas em reparação às falhas da 2º onda, focando na interpretação do gênero e da sexualidade.

 

SÉCULO XXI: 4º Onda do Feminismo?

A imagem foi feita durante a Parada da Diversidade de São Paulo, em que uma mulher transexual chama atenção para a crucificação da sociedade diante a sua identidade de gênero (devemos incluir elas nessa nova Onda Feminista).


Veja o que mulheres que fazem e lutam pela força feminina no Estado de Pernambuco acharam do ano de 2015 e o que ele interfere na história do feminismo:

 

2015

“Companheira me ajude que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”

Silvia Cordeiro, Secretária da Mulher do Estado de Pernambuco:

“O feminismo  em 2015 esteve presente na  agenda da sociedade em  diferentes campos, com destaque para mobilização em defesa da igualdade de gênero na educação, pela permanência da  SPM, contra a xenofobia, o machismo e por igualdade no mundo do trabalho.

Destaco alguns momentos emblemáticos que  concorreram para mobilização de mulheres no Brasil e no mundo, em um contexto conservador e adverso   aos direitos e justiça de gênero:

  • A Marcha das Margaridas;
  • A Marcha das Mulheres Negras;
  • Os ciclos municipais e estaduais da IV Conferência de Políticas para as Mulheres;
  • O FORA CUNHA, contra o retrocesso na legislação do aborto previsto em Lei;
  • A  aprovação da PEC das domésticas;
  • A lei do Feminicídio;
  • A reparação do Japão às Coreanas escravizadas sexualmente;

Foi um ano de muitos embates, um ano de perplexidades, mas também de pluralidade no feminismo que inspirou e abriu oportunidade para ampliar a discussão nas redes sociais e favorecer o surgimento de novas formas organizativas sem tutela ou imposição de temas.

Podemos dizer que o machismo está sofrendo sérias derrotas e sua reação política ao feminismo exige de nós novas estratégias para avançar no  projeto civilizatório e libertário  tenha como sustentação política a igualdade entre homens e mulheres.”

 

 

 

Bianca Pinho, Secretária da Mulher do Paulista (Região Metropolitana do Recife):
 

“Paradoxalmente, pela possibilidade da perda. O que nos acordou. Depois de tanta luta, os movimentos feministas conseguiram a conquista de um importante espaço de desenvolvimento de políticas públicas específicas para as mulheres no Ente institucional. Uma enorme e fundamental conquista.

 

A concretização da, até então, possibilidade de mudança no status quo da nossa cultura secularmente machista e cultuadora da desigualdade. E se essa inserção nos alavancou, nesse ainda pouco tempo,  ganhos concretos na estruturação de ações  palpáveis capazes de criar oportunidades, garantir direitos, cidadania e empoderar as mulheres, por outro lado criou um hiato. Uma espécie de “estranhamento” institucionalidade/movimentos.
 
No momento em que essa conquista se viu ameaçada o foco voltou a ser único: a luta pela manutenção dos nossos avanços. Nossos Direitos e nenhum retrocesso, nos alinhou novamente. Nos fez relembrar que nossas diferenças, são nossa fortaleza. E são nossas. A serem resolvidas entre e por nós.
 
Então, se os nossos avanços concretos nas políticas de gênero já tornava 2015 um ano feminista, o despertar dos conservadores que viram-se ameaçados pelos nossos avanços, a sanha renovada com que estão a tentar nos conter, enquadrar, nos impingir novos estereótipos e distorcer as nossas  verdadeiras bandeiras, acordou em nós, uma velha conhecida: a nossa capacidade de, na adversidade, nos munir de uma ainda maior certeza de nosso poder de superação.
 
E, certamente tendo sido 2015 um ano feminista, que venha 2016 e seja o primeiro ano de nossa longa, e , muito,muito
duradoura emancipação.”

 

 

Lindacy Assis, militante do movimento negro de Pernambuco e Especialista em Gênero e Desenvolvimento de Políticas Públicas:

“O ano de 2015 foi o ano de levante feminista!Foi em 2015 que as feministas voltaram as ruas, reivindicando seus direitos, através de marchas (Marcha das vadias, marcha das mulheres negras, marcha das margaridas), como forma de firmação de identidades e ocupação de espaços políticos. Através de passeatas contra o machismo, sexismo e a lesbofobia.
 
As mulheres brasileiras se articularam em uma mobilização nacional em defesa da permanência da SPM, não alcançamos o objetivo que era garantia de uma secretaria independente com status de ministério de política para as mulheres, ocorreu a fusão das secretarias de políticas para as mulheres, de direitos humanos e de igualdade racial, mas tivemos um ganho, que foi a nomeação de uma mulher negra para comandar este novo ministério, promovendo a visibilidade da mulher negra.
 
O ano de 2015 foi marcado por uma crise política gerada pelo resultado das eleições de 2013, onde uma mulher foi reeleita para chefe de Estado, e os opositores inconformados, vem atacando a democracia, mais as feministas estão nas ruas na luta pela garantia do mandato popular.
 
Foi um ano de conferências de políticas para as mulheres em todos os Estados brasileiros, garantindo as vagas para as mulheres, irem a Brasília em 2016, contribuir para a construção de políticas públicas voltadas para as  suas demandas a nível nacional,estadual e municipal.
 
Que em 2016 possamos estar com a mesma garra e determinação que tivemos em 2015, na luta contra o machismo, o sexismo, a lesbofobia, a transfobia, o racismo e todas as formas de opressão contra as mulheres.
 
Feliz  2016!”

 

Após surgir o movimento #PermaneceSPM, as Mulheres de Pernambuco sentiram necessidade da discussão contínua para a garantia de equidade de gênero e também o fortalecimento das especificidades que há dentro do próprio movimento, como as mulheres negras, lésbicas, religiosas e deficientes. Então surgiu o Mulheres & Democracia.

Foto: Juliana Barreto

Por Poliny Aguiar – Feminista, jornalista, fotógrafa e agente de direitos humanos da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SDSDH) da Prefeitura do Recife.

Fotos: Poliny Aguiar