O Brasil é um país que não lê… Não lê?

Na área metropolitana do Recife, existe uma grande movimentação para dar acesso literário a quem vive à margem da sociedade

O livro sempre foi um produto que representa inteligência, cultura. Quem o domina tem o poder nas mãos. Foi assim na Idade Média, quando os membros do Clero eram os únicos que tinham acesso (físico e intelectual) às obras de Aristóteles, Platão, Sócrates, Homero…

 

 

Na área metropolitana do Recife, existe uma grande movimentação para dar acesso literário a quem vive à margem da sociedade

O livro sempre foi um produto que representa inteligência, cultura. Quem o domina tem o poder nas mãos. Foi assim na Idade Média, quando os membros do Clero eram os únicos que tinham acesso (físico e intelectual) às obras de Aristóteles, Platão, Sócrates, Homero…

 

 

No Brasil, o livro sempre foi um instrumento que designa status e poder. Basta observar,por exemplo, o adjetivo “intelectual”, cujo peso, serve socialmente para separar o “joio do trigo”,ou o rico do pobre. Quem carrega essa qualificação nos ombros tem inerente em seus hábitos o da leitura. Geralmente, os marginalizados não têm acesso a esse meio de informação. Será?
Aqui em Pernambuco, na área metropolitana do Recife, existe uma grande movimentação para dar acesso literário a quem vive à margem da sociedade. São as resistentes bibliotecas comunitárias. Procurei por pessoas que pudessem me mostrar como está a literatura inserida nas periferias recifenses.
Encontrei um rapaz que, por si só, representava a revolução dos livros em nosso estado: Gabriel Muniz. Este morava no bairro do Carmo, Olinda, e freqüentava a biblioteca municipal da Cidade Patrimônio da Humanidade. “Sempre achei a Biblioteca de Olinda parada, assim como outras bibliotecas. Ela não tem nenhum atrativo. A literatura não é morta, pelo contrário ela traz ao leitor  novidades, vida.”

Com este pensamento fez uma pesquisa com os freqüentadores das bibliotecas e constatou que varias pessoas compartilhavam da mesma opinião. Levou o caso a prefeitura, porém sem grandes resultados.

Por sua determinação, foi chamado para participar do coletivo Boca no Lixo, movimento que na periferia olindense, num bairro chamado Peixinhos.  A música era a principal arte do movimento, que seguia a ideologia Punk, o que explica por quê antes de se tornar Boca no Lixo o coletivo chamava-se Movimento Under Ground. O grupo produzia eventos nos quais os ingressos eram um quilo de alimento não perecível ou um livro. Livro?

Pois é, livros. O grupo sofreu uma grande influencia de um poeta e dono de uma loja de sebo (revendedora de livros usados), Caetano Alves  “Ele tinha facilidade para interagir com o jovem e mostrou para o grupo como o livro poderia modificar ávida de uma pessoa, de um grupo, do mundo”. A galera tinha descoberto uma “nova” forma de expressão: o livro. Daí surgiu a idéia de montar uma biblioteca comunitária. Surge a Biblioteca Multicultural Nascedouro.

¨As bibliotecas surgem da necessidade
de acesso a esta fonte de informação. ¨ Gabriel Muniz

 

Gabriel conseguiu, como coordenador da Biblioteca Multicultural Nascedouro, unir nove (9) Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana do Recife: Biblioteca Multicultural Nascedouro (Peixinhos), Biblioteca Popular do Coque (Coque), Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares (Iha do Retiro -Comunidade caranguejo tabaiares), Biblioteca do CEPOMA (Brasília Teimosa), Biblioteca Comunitária Amigos da Leitura (Alto José Bonifácio), Biblioteca Lar Mei Mei (bairro novo), Biblioteca Os Bravistas (ouro preto), Biblioteca Peró (Piedade).Com isso conseguiu formar a primeira Rede de Bibliotecas Comunitárias do país.

Hoje em dia, ele coordena a rede de bibliotecas e luta para que a literatura esteja ao alcance de todos. Ao ser questionado se o Brasil é um país que não lê, ele disse: “As bibliotecas comunitárias não surgiram do nada”. Pois é, alguém tinha a sede de ler, afinal a biblioteca é  comunitária, ou seja da comunidade. Por que esta conquistaria o que não lhe interessa?  É de se pensar.