Angu de Teatro:
Retratar as indiferenças sociais e transmitir ao público não é mais uma circunstância arcaica e acadêmica. Grupos pernambucanos de teatros já fazem sucesso em outros estados e levam além de cultura e diversão, temas que repercutem no dia-a-dia e que até hoje são ignorados por muitos, inclusive pelo próprio poder público.
O Coletivo Angu de Teatro foi criado em 2003, quando os componentes deram início às pesquisas para a montagem do espetáculo “Angu de Sangue”, texto de Marcelino Freire. Desde então, além de Angu de Sangue, sucesso de público e crítica em Recife, como em várias capitais brasileiras, outros dois espetáculos foram montados: o polêmico “Ópera”, do dramaturgo Newton Moreno, e o emocionante e mais atual “Rasif – Mar que Arrebenta”, também do autor Marcelino Freire. Os espetáculos são todos voltados á crítica e a hipocrisia da humanidade, retratados com ironias e sarcasmos em divertidas histórias.
CLICK REC – Os contos de Angu de Sangue retratam a sociedade brasileira e o final do século XX. Rasif – Mar que arrebenta, faz a ponte com Angu de Sangue e reafirma a modernidade e as “novas” doenças do século XXI. Sendo a polêmica uma característica do autor Marcelino Freire, em que condições o Coletivo Angu de Teatro escolheu essas obras para representar?
MARCONDES LIMA – A primeira delas, o Angu de Sangue, foi logo depois que Marcelino Freire lançou o livro. Exatamente por essa temática, sobre essa abordagem, essa marginaria, a linguagem, a proeza e o humor que Marcelino tem… Essas coisas encantáveis do autor. A gente tem a proposição de fazer a cena com um texto que não é de teatro. E nos escolhemos entre esses três trabalhos (Ópera, Rasif e Angu) obras que não foram feitas para teatro
CLICK REC – Ao longo dos cinco anos do grupo, atores saíram e novos atores entraram. Quais foram as maiores mudanças feitas?
MARCONDES LIMA – A maior mudança foi o grupo se tornar maior. Porque não houve, de fato, uma mudança pela troca ou substituição dos atores. Claro que quando há a substituição dos atores, essas operações fazem com que a obra se transforme, não dá para comparar o trabalho de um ator com o outro. São coisas diferentes, eles tem sensibilidades diferentes e propõe nas cenas sensibilidades diferentes. A Hermila, por exemplo, vive em outra cidade, mas ainda faz parte do grupo
CLICK REC – Música ao vivo, cenário criativo, a iluminação, cenas musicais, tudo bem elaborado e longe de espetáculos comerciais. Como é a receptividade do público?
MARCONDES LIMA – Boa, a receptividade tem sido muito boa. Eu creio que o público tem se instigado e ficado curioso, querendo saber o que a gente vai fazer e como a gente vai fazer. A gente tem mantido também a pesquisa e a qualidade e isso as pessoas estão vendo bem. Eu creio que os espetáculos falam e tocam a platéia. Não são espetáculos fechados feitos de forma fria, com aquela elaboração clássica, séria que as pessoas não se identificam.
CLICK REC – Como se encontra o cenário teatral em Recife, em sua opinião?
MARCONDES LIMA – Eu só vejo uma irregularidade. A gente não tem como ir á outros centros, um mercado de trabalho, uma sistemática de produção regular que façam com que as pessoas tenham essa ocupação de ser profissionais. E as produções também, pois existem diretores que fazem um trabalho agora e passam três anos para fazer um novo. Tantos os atores como os diretores, todos que fazem teatro precisam da prática… Às vezes isso não é possível aqui.
CLICK REC – Quem faz teatro precisa necessária mente de uma especialização?
MARCONDES LIMA – Existem aquelas pessoas que tem o talento nato. Elas se propõem aquilo sem mesmo ter consciência daquilo, mas elas precisam dominar o talento e isso é técnica, sem técnica não se faz nada. As escolas, cursos, os espaços de formação são a porta dessa questão da técnica. Mas aqueles que passam por uma escola podem não ter talento, então ficam só com a técnica. Porém a técnica dá um suporte. Um ator mediano que tem uma técnica e que a domina, pode até suplantar um ator talentoso, que não tem técnica. Eu defendo que o ator precisa estudar, precisa pesquisar, precisa cuidar dessa formação.
CLICK REC: Sua dicção é bem particular e se encaixa de forma variada em personagens variados… Qual personagem você mais gosta de interpretar?
FÁBIO CAIO: É uma pergunta quase impossível de responder…por que cada personagem que eu faço nos três espetáculos tem uma importância particular. Muribeca (O Caso da Menina e Socorrinho – Angu) representa muito para mim, representa minha volta aos palcos.
Afastado do teatro há quase 12 anos, Fábio Caio teve os mamulengos como seu último trabalho, em teatro de bonecos, na TV Escola, com o projeto Brasil 500 anos. Agora volta aos palcos com o Coletivo Angu de Teatro. O ator é um dos que participam das três peças:
CLICK REC: Em Ópera, seu personagem Petra, arranca risos do público. Nas outras obras (Rasif e Angu de Sangue), existem personagens que também não deixam o espectador quieto na poltrona. Pra você o que é mais difícil: Fazer drama ou comédia?
FÁBIO CAIO – Eu não vejo a separação entre esses gêneros… Qualquer um dos dois requer trabalho, dedicação. Quando estou fazendo Ópera, a minha preocupação não é se o público vai rir ou não. Até gosto de fazer drama também, mas não tenho culpa se eu faço graça e o povo rir (risos).
O mais novo integrante do grupo é também o mais novo entre as idades dos atores que ele contracena.
O mais novo integrante do grupo é também o mais novo entre as idades dos atores que ele contracena:
CLICK REC – No teatro tudo se pode fazer… A criatividade e o mundo paralelo moram lado a lado. Fora dos palcos notamos que você é meio tímido. Você usa o palco para expressar seu interior?
TATTO MEDINNI – A questão de ser tímido é outra questão… Eu faço teatro pra me divertir porque eu tenho prazer em fazer teatro. As pessoas precisam parar de pensar que teatro só serve para se comunicar. Não, teatro também serve para se divertir… Existe teatro para informação, para educação, para crítica social, crítica familiar, enfim… O Coletivo Angu é para mim um divisor de águas. Eu era uma coisa antes e me tornei outra, depois de ingressar no Coletivo.
CLICK REC – Como é sua relação com Hermila Guedes dentro e fora do palco?
TATTO MEDINNI – Então… Nossa relação é de marido e mulher. Ela entrou primeiro no grupo, eu entrei depois, mas não tem nada haver uma coisa com a outra, a gente não mistura, ou até mistura (risos). Mas, nada tem a ver o palco com o nosso relacionamento. Ela está gravando no Rio, a distância atrapalha um pouco, mas a gente consegue driblar.
A constituição do Coletivo Angu de Teatro atualmente é:
André Brasileiro (Ator)
Arilson Lopes (Ator)
Fábio Caio (Ator)
Gheuza Sena (Atriz e produtora)*
Hermila Guedes (Atriz)
Ivo Barreto (Ator e responsável pel parte técnica)
Márcia Cruz (Atriz)
Marcondes Lima (Diretor)
Tadeu Gondim (Produtor)
Tatto Medinni (Ator)
Vavá Schön-Paulino (Ator e preparador corporal)
