Dos Primórdios à Modernidade

Dos Primórdios à Modernidade
Origem e história da expressão urbana mais usada, o graffite

 

[caption id="attachment_61" align="alignnone" width="533"]Foto: Flávio Fonseca[/caption]

Dos Primórdios à Modernidade
Origem e história da expressão urbana mais usada, o graffite

 

Foto: Flávio Fonseca

 

Uma rápida olhada e lá estão signos, frases e desenhos de múltiplas interpretações, que têm como objetivo não só embelezar, mas, sobretudo expressar, das mais variadas formas, o pensamento de determinados grupos. Hoje o grafitte é considerado uma forma de arte e expressão do pensamento humano. Mas foi por muito tempo, desde os primórdios da civilização, usado para representar lutas, caçadas de animais, lazer e símbolos. Muitos dos quais, ainda hoje, são enigmas para arqueólogos. Contudo, de fato são significantes aos seres daquele contexto, como uma forma de transcrição do momento histórico.

“É na rua que nós montamos nosso atelier,
e pra torná-los visíveis, temos que nos
preocupar com um bom lugar”.

Quando o graffite surgiu, era cheio de ideias. Começou no período pós-guerra, como uma alternativa para a realização de protestos pacíficos, ganhando mais força com o movimento estudantil na França, em maio de 1968. Os estudantes foram às ruas e pi­charam as paredes da Sorbonne com palavras de ordem como: “É proibido, proibir”, “A imaginação no poder”. Juntamente com as frases eram coloca­dos desenhos feitos com máscaras ou à mão livre.  A idéia deste tipo de manifestação era desafiar a concepção funcionalista dos espaços públicos, contestando o governo, a política e a mí­dia.

E não demorou muito para que a arte urbana também chegasse ao Brasil, no início da déca­da de 80, período de grande repressão política. O grafitte já estava difundido na Faculdade de Ar­quitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, e os estudantes brasileiros criticavam o sistema capitalista por meio de pichações nos mu­ros da grande cidade. Começava então a nascer um ponto forte neste tipo de atividade: A arte de rua é desvinculada de todo e qualquer conform­ismo social e econômico. No entanto, ao longo dos anos muita coisa foi adaptada aqui no nosso país, passando a compor nesses desenhos, principalmente uma cultura nacional voltada para a população.

O atelier dos grafiteiros são nas ruas. Foto: Flávio Fonseca

Para isso os “grafiteiros” tem uma preocupação muito peculiar nesse universo: Apropriar-se dos melhores muros e fachadas para torná-los suporte de suas ideologias. Segundo o grafiteiro, Tácio Almeida, é difícil conseguir um espaço para mostrar seus trabalhos. “É na rua que nós montamos nosso atelier, e pra torná-los visíveis, temos que nos preocupar com um bom lugar, nós temos que procurar a melhor visibilidade e quanto mais alto o local melhor”, afirma o artista.

Novos espaços – A arte de rua na cidade do Recife, ganha espaço até em galerias e chama a atenção das pessoas que passam nas ruas de classe média alta. É o caso do artista pernambucano, Toz Valente, que faz parte do grupo de grafite Fleshbeck Crew, há oito anos. O artista afirma não se importar com as opiniões de pessoas que

Foto: Flávio Fonseca
criticam exposições de suas obras em galerias e bairros nobres. “A vibração das ruas leva às galerias, e pinto com conceito, retrato a minha vida e o meu redor independente de onde esteja expondo minha arte”, disse.

Diferente de como era conhecido na déca­da de 70, o grafite está sendo considerado por muitos críticos especializado como uma nova forma de arte. Gale­rias e eventos sobre o estilo estão sendo cada vez mais realizados. Há também um aumento considerado na procura de grafiteiros que expres­sam suas idéias nos centros urbanos. No entanto, poucas pessoas sabem a verdadeira ideologia da arte de rua, que está ficando esquecida com o passar dos tempos.

O que mudou nesses quase 40 anos? – Antes, pichadores e grafiteiros eram considerados vândalos, que destruíam o patrimônio da socie­dade. Hoje em dia, existe uma grande valorização da arte urbana, como obra de arte, enquanto a pi­chação acabou sendo tachada de atividade mar­ginal.

Mas ainda há aqueles grafiteiros que dedi­cam seu tempo para a realização dessa arte, como o intuito de expressar suas idéias.  É o caso do consagrado artista pernambucano, Derlon Almei­da, que desenvolve desenhos a partir de pesquisas e estudos sobre a xilogravura e a tecnologia acessível nas periferias. Segundo o grafiteiro, ainda existe um preconceito com toda arte urbana. “Há uma valorização da grafitagem, sem dúvida, mas em algumas cidades as pes­soas ainda são preconceituosas e isto faz com que nosso trabalho não seja tão reconhecido”, disse.

Derlon Almei­da, que desenvolve desenhos a partir de pesquisas e estudos sobre a Xilogravura. Foto: Flávio Fonseca

De acordo com a psicóloga Vera Lúcia, a arte urbana, inserida na periferia, possui uma grande contribuição para a sociedade. “Existe um ditado muito certo que diz: “mente vazia, oficina do diabo”, esse tipo de ativi­dade, muitas vezes, leva o jovem a um caminho longe da marginalidade”, contou a psicóloga.

Dessa forma, podemos afirmar que o grafitte, além de arte, possui um caráter social de grande significado.