A HARMONIA ENTRE A EXPRESSÃO E A TEMÁTICA PRESENTE EM VIDAS SECAS

 A Semana de 22 deve ser vista como um divisor de águas na História das artes brasileiras, já que, a partir de seu advento, as tendências academicistas presentes não só na literatura, mas nas manifestações artísticas, de modo geral, começam, paulatinamente, a ceder lugar às tendências propostas pelas Correntes de Vanguarda. Uma vez consolidados os ideais estéticos do Modernismo, os escritores, influenciados pelo contexto histórico, passam a retratar determinados problemas sociais em suas obras. É dentro de tal contexto, que entram em cena os escritores do chamado Regionalismo de 30, período no qual está inserido Graciliano Ramos, que segundo Alfredo Bosi, em termos de romance moderno brasileiro, sua obra representa o ponto mais alto de tensão entre o “eu” do escritor  e a sociedade que o cerca.

      

 A Semana de 22 deve ser vista como um divisor de águas na História das artes brasileiras, já que, a partir de seu advento, as tendências academicistas presentes não só na literatura, mas nas manifestações artísticas, de modo geral, começam, paulatinamente, a ceder lugar às tendências propostas pelas Correntes de Vanguarda. Uma vez consolidados os ideais estéticos do Modernismo, os escritores, influenciados pelo contexto histórico, passam a retratar determinados problemas sociais em suas obras. É dentro de tal contexto, que entram em cena os escritores do chamado Regionalismo de 30, período no qual está inserido Graciliano Ramos, que segundo Alfredo Bosi, em termos de romance moderno brasileiro, sua obra representa o ponto mais alto de tensão entre o “eu” do escritor  e a sociedade que o cerca.

      

   A partir da construção de um narrador, que conta a história em terceira pessoa, por meio da utilização do discurso indireto livre, Graciliano Ramos escreve o seu romance Vidas Secas, no qual, é narrado a história de retirantes nordestinos que fogem da seca. Tanto no primeiro, como nos últimos capítulos, a família, composta pelo vaqueiro Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, e seus dois filho que são identificados apenas com Menino mais velho e Menino mais novo, aparece, em consequência da seca, marchando em retirada à procura de condições de vida mais dignas. É devido à utilização de tal recurso por parte do autor, que não só leitores, como também alguns estudiosos, acreditam que sua intenção era transmitir a idéia de que a vida daquelas pessoas continuaria a transcorrer de maneira circular, sem maiores perspectivas de mudança.

        Um outro ponto da obra que vale ser ressaltado é a ausência de maiores diálogos entre os personagens que, quando acontecem, muito raramente, no decorrer da obra, fluem por  meio de monossílabos ou interjeições guturais, sendo, desse modo, os personagens rebaixados a um nível animalesco. É dentro de tal perspectiva que para alguns pesquisadores, Vidas Secas apresenta certos traços que, até certo ponto, tornam possíveis uma associação com certas características Deterministas, já que, o meio em que vivem, dominam de tal forma aquelas pessoas, a ponto de comprometer algo que é tão característico ao ser humano,a capacidade de colocar-se no mundo como ser social a partir do exercício da linguagem.
        Embora o vaqueiro Fabiano e sua família figurem na obra como seres brutalizados, e em determinadas passagens, desumanizados, outro personagem, a cachorra Baleia, pode ser vista como o único membro da família que ainda guardava um pouco de sensibilidade. É dentro de tal perspectiva que segundo escreve Graciliano em carta a sua esposa, Heloisa Ramos, Baleia morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. Ou seja, é por meio da humanização da cachorrinha que o escritor, de modo metafórico, procura tornar concreto o desejo daquela família. 

        Um outro ponto importante a ser salientado é a linguagem concisa por meio da qual Graciliano empreende crítica social. Tendo em vista tal perspectiva que segundo o escritor Milton Hantoum, o drama social interage com a própria linguagem, que assim como a situação vivenciada pelos personagens é desprovida de qualquer excesso, dispensando, até certo ponto, adjetivos, apoiando-se ao máximo em substantivos, assim como o poeta  João Cabral de Melo  Neto, pertencente à geração posterior.

       Em suma, é possível observar que em Vidas Secas, Graciliano Ramos consegue, de modo brilhante, casar a expressão com aquilo a que ela se refere. É tendo em vista tal perspectiva que a obra em questão deve ser vista não só como um artifício para se obter maior conhecimento acerca da linguagem, mas também como uma alternativa para conhecer situações ou mesmo problemas, até certo ponto, distante da realidade urbana em que vive a maior parte da população.