Inge Porto – Baterista da banda Estrógeno

História da Banda Estrógeno

História da Banda Estrógeno


 

A biografia desta banda pernambucana começou através da comunicação por um site de uma banda paulista de punk rock, em junho de 2000. Inge (bateria) e Patrícia (baixo) visitavam esta página e depois de trocarem alguns e-mails, marcaram uma conversa fora da rede. Claudinha (guitarra), amiga de Inge, foi chamada para o encontro. Assim começou o trio… Sem vocal, com guitarra emprestada e bateria de estúdio. Apenas o baixo era próprio. 

Começaram ensaiando assim, até aparecer Renata que freqüentava o mesmo estúdio e conhecia a maioria das músicas que elas tocavam… Sabendo que as meninas estavam sem vocal, entrou pra dar “uma força” e o trio se transformou num quarteto. Logo depois resolveram colocar outra guitarra pra dar mais “peso” às músicas. Entrou Rebeca. Ela foi a um ensaio e a identificação aconteceu imediatamente.

Finalmente, no final de 2000, estava formada a Estrógeno, tendo realizado seu primeiro show em janeiro de 2001. O gosto musical das cinco integrantes, somado à grande amizade ali formada, foi algo mágico. 

Entrevista com Inge Porto – Baterista da banda Estrógeno

 

Como é fazer rock n´roll na terra que para ser ouvido (as) é necessário ter uma alfaia, ou fazer parte do “seleto” grupo dos finados do mangue-beat?

Olha, já ouvi tantas vezes “porque vocês não colocam algo regional?” ou “porque vocês não colocam uma alfaia?” (risos)

Ai gente, assim todas as bandas seriam iguais, não é? Isso acontece com muitas bandas de rock. As vezes nem é a praia da banda, mas acabam cedendo a este apelo pelas dificuldades encontradas. Não é fácil não ceder, embora isso não desmereça ninguém, mas a gente fica de fora de um monte de eventos por conta disto. Até jornalistas já sugeriram isso pra gente. Nós adoramos vários ritmos, inclusive o mangue-beat, eu mesma vou pra vários shows de bandas e música regional, gosto bastante, mas na nossa banda nós fazemos um rock mais clássico, por opção, por sintetizar um sentimento presente nas integrantes. O gosto de cada um é individual, mas a banda é rock puro. Mas não é fácil não fazer parte de grupos seletos, pagamos um preço alto.

 

Particularmente eu penso que o Brasil ainda tem muito o que mostrar musicalmente falando, no entanto, acho que existe ainda muito preconceito em se ouvir uma banda formada apenas por garotas e que tocam rock n´roll. Depois de 10 anos de banda, com experiência de vida e mercado independente, como você encara isto?

O tempo passa e a passos muito lentos, está havendo uma desmistificação, mas ainda há um grande caminho a percorrer. Há pouco tempo tivemos uma experiência engraçada. Fomos tocar num bar e algumas pessoas estavam com aquele olhar de desdém quando viram que só tinham mulher no palco. Sabe aquele olhar de “essa banda não deve saber tocar, deve ser uma bandinha de brincadeira”. Mas no meio do show, tinha mulher de costas para o maridão, focada na Estrógeno, gente que não conhecia as nossas músicas e tamborilando na mesa.(risos) Foi muito bom o reconhecimento no final. Também já passamos por situações estúpidas, de homem chegar a perguntar se a gente ia “dançar”. Como se mulher só soubesse fazer isto. Ai meus ovários viu?!

É preciso paciência, mas nós temos! E o que nos estimula é que sempre que tem alguém com aquele olhar de dúvida, basta esperar a gente tocar que rapidinho eles se convencem que nós sabemos o que estamos fazendo e fazendo com muito prazer! Amor pelo nosso trabalho! Paixão pelo rock! Preconceito? Existe, mas aos poucos, acho que estamos contribuindo para diminuí-lo.

 

Nos dias de hoje é muito comum, várias bandas e músicos que tem trabalhos autorais, apostarem em projetos “paralelos”. Desde 2006 a Estrógeno deixou de fazer covers e apostou todas as fichas no projeto autoral, percorrendo um caminho contrário. É não ter medo de riscos ou acreditar no próprio trabalho?

A gente compõe desde que formamos a banda, mas tínhamos poucas músicas autorais, só em 2006 é que abandonamos de vez o cover, mas até esta data, a gente levava paralelamente os dois repertórios. Agora só tocamos nossas próprias músicas. Gostamos muito do nosso trabalho, além de termos cansado um pouco do cover. Não, definitivamente não temos medo de nos arriscar! Temos estrógeno na veia. (muitos risos)

 

Aprendiz de piano na infância, depois veio o bongô. Como surgiu o interesse por bateria? Foi por curiosidade ou você acha que o piano, que também é um instrumento percussivo, teve influência nessa escolha?

Eu estudei piano dos 7 aos 14 anos por incentivo dos meus pais. Meu pai estudou piano durante 15 anos e toca muito bem. Mas depois que cresci, ficou complicado continuar, me mudei de cidade e comecei a ter outros interesses. O piano não influenciou na escolha da bateria. Quando eu estava em rodinha de amigos, sempre batucava em algum isopor, balde, mesa, copo. Aí, depois de quebrar alguns destes objetos, uma amiga me deu um bongô. Acho que pra diminuir o prejuízo da galera. E eu toquei um pouco, em alguns bares, como hobby, com Claudinha (da Estrógeno, que tocava o violão) e Lucinha (vocalista). Comecei a me sentir meio limitada com o bongô e resolvi aprender bateria, ampliar conhecimentos. Nem pensava em banda. Mas fui aprendendo e me apaixonando pelo instrumento. Hoje, tocaré um dos maiores prazeres que tenho na vida. Meu professor, Sandro Moura, que hoje é meu grande amigo, também me influenciou muito, pois além da sua competência, ele passa um sentimento muito forte para os alunos. Depois é q rolou a história da banda.

 

Uma das coisas que mais sinto falta no rock n´ roll nacional hoje, são as bandas de protesto. Obviamente que isto esteve muito ligado aos acontecimentos políticos, ditaduras (tanto militar, quanto direitista). Os compositores, letristas e músicos revolucionários estão em extinção? E o que acho mais complicado. Será que toda aquela esperança que eles tinham num governo “esquerdista”, hoje também não iria se tornar contexto revolucionário? Caras como Renato Russo e Cazuza, que beberam muito de música de revolução, estariam felizes atualmente?

Acho que as bandas de protesto jamais deixarão de existir. Talvez estejam mais concentradas no meio punk, mas nunca sumirão. E nós, assim como outras bandas, também levamos o nosso protesto em muitas letras. Por exemplo, sempre temos músicas falando sobre a violência contra a mulher, que é o nosso protesto maior (vide “Maria nos penhascos”, “Leite e Sangue”, entre outras). Não somos uma banda apenas de protesto, trabalhamos com vários temas e o protesto é um deles. Estamos terminando uma nova composição chamada “Pizzaria Brasil”, que é um protesto político. Breve estará nos shows. Na minha opinião, Renato e Cazuza não estariam felizes, como nunca estiveram, e certamente estariam compondo como nunca. Tem muita nojeira acontecendo, e eles teriam uma fonte inesgotável de inspiração nos dias de hoje.

 

Ouvindo o trabalho da sua banda, EP´s de 2007 e 2009, noto que há um grande mar de influências. Semelhanças com rock nacional oitentista, pitadas de metal em solos de guitarra, hard-rock, punk-rock, etc…

O ecletismo dentro do rock n´roll existe dentro de você, ou para tocar numa banda é necessário aceitá-lo?

Dentro de mim existe muito ecletismo, é fato, assim como no restante das integrantes da Estrógeno, mas acho que isso não é fator limitante para se ter uma banda. Se juntar uma galera mais radical, que só goste de um determinado tipo de som, pô, vão ser felizes fazendo unicamente aquele som, sem problemas, basta encontrar a parceria certa. Na nossa banda, gostamos de vários estilos de rock e com a influência de cada uma, acaba gerando este som alternativo com levadas diversas, mas sem fugir do velho rock´n roll.

 

Costumo bater muito na mesma tecla quando dialogo com pessoas ligadas a música. Acho o mercado fonográfico atual muito pobre em termos de qualidade. Por outro lado, analisando o lado alternativo e independente, percebemos que ótimas bandas, inclusive de rock, estão trabalhando sério e esperando oportunidade. Estamos fadados a ouvir o “chororô dos emos” por um bom tempo?

O mercado quer lucro, quem dá lucro é a grande massa, e esta, não tem boas referências musicais, então aparece cada grupo que dá vontade de “pedir licença e sair”. Mas a massa curte. Gosto de acreditar que tem música boa em todos os estilos, mas o que rola na mídia, a maioria não me agrada. Pela própria história e oportunidades que tivemos, estou pessimista, não vejo movimentos e/ou interesses que tragam as bandas alternativas para uma visibilidade maior, continuamos (a maioria dos independentes, com poucas exceções) sendo vistos e ouvidos por um público pequeno, aqueles que possuem informações extra-mídia.

 

Qual a sua visão para o futuro do rock? Ainda existe algo a fazer, ou tudo de melhor já foi escrito com as bandas clássicas?

Caralho, se tudo já foi feito, fechem todos os estúdios!(risos) Acho que sempre haverá algo de novo a ser feito ou melhorado. Claro, com o passar do tempo, as dificuldades vão aumentando, pois os clássicos são difíceis de superar, mas acho que sempre surgirão gênios em todas as classes. Sobre o futuro, vejo a influência da tecnologia em toda parte. Faz parte do presente e certamente de uma maneira mais contundente no futuro. Softwares altamente especializados fazendo parte de equipamentos, instrumentos e gravações e a internet ainda mais inerente em todos os meios (contatos, divulgação das bandas, transmissão de shows ao vivo, música gratuita, etc). Está acontecendo aos poucos uma mudança de filosofia no meio musical e quem não fizer parte deste mundo virtual, provavelmente será suplantado.

 

Como você vê a cena musical pernambucana atual?

Sempre achei e continuo achando que somos um dos Estados mais férteis do país, e não só musicalmente, Pernambuco tem excelentes artistas em todos os setores. Temos bandas e artistas em todos os estilos que você quiser. Temos trabalhos puristas, fusionados, sólidos, virtuosos, iniciais. Não é a toa que quando os músicos vão para o sul, são recebidos de braços abertos e com reverência. Isso só não acontece aqui. O público não reconhece o próprio valor dos pernambucanos, do pessoal que está aqui pertinho, sempre esperam que o pessoal do sul diga que é bom.

 

Gosto de terminar meus bate-papos, perguntando sobre influências musicais. Num contexto geral, me cite 3 nomes da música que formaram tua personalidade musical.

Só 3? Ixe (muitos risos)

 

Vamos lá.. Beatles, Janis Joplin e Cazuza.

 

 

 

 

Estrógeno – Integrantes:


 

Claudinha (guitarra e voz), baiana, toca violão desde pequena (um dos hobbies prediletos), gosta de ler, ir ao cinema e sair com os amigos. Tem uma cadela linda, por quem é apegadíssima. O gosto musical é bastante eclético, não se limita apenas ao rock. Já tocou mpb nas noites.

Patrícia (baixo e vocal) desde cedo se interessou pela música. Tocou violão durante 4 anos na Igreja. Baiana que gosta de experimentar outros instrumentos, mexe com tudo: guitarra, bateria e elementos percussivos. É apaixonada pelo mar. No gosto musical também cabe um monte de coisas. Até já compôs música em outros estilos.

Rebeca (guitarra), cearense, é a mais tímida da banda e a nossa headbanger, a que gosta do som mais pesado. Tão fanática por guitarra que até o namorado é guitarrista. Adora praia e cinema. Vício: chocolate.

Inge (bateria) estudou piano quando criança, toca bongô e sabe um pouquinho de violão. Adora cinema, teatro, dança e poesia. Praticou basquete por vários anos e é faixa verde em kickboxing. Sempre foi muito ligada à música e já tocou mpb nas noites (com Claudinha), mas o rock é a grande paixão dessa pernambucana.