O personagem chama-se Gael. O título remete às ‘Aventuras de um eterno Forasteiro’. O autor tem apenas 23 anos. Ex-aluno do Colégio Santa Maria é graduado em Administração. E tem como patrimônio uma madura, personalizada e inegável veia literária. No seu livro de estreia, não imita nenhum grande nome da literatura brasileira ou mundial. Apresenta-se através do texto como um autêntico escritor original, em plena sintonia com o terceiro milênio. Lucas não copia, constrói.
O livro é uma sucessão de surpresas em cada parágrafo. Não é volumoso. Mas é denso, profundo, e, simultaneamente, de leitura fácil e envolvente. O principal: o roteiro não está no mundo exterior mas emerge de dentro do personagem. É do interior, das reflexões, da alma de Gael em seu percurso de navegador em busca dos continentes de percepções não descobertas que brotam sentimentos, constatações, novas construções intelectuais.
Com a marca da originalidade e da sedução. Um livro diferente, que situa o personagem como um eterno estranho, um forasteiro, quer seja em sua própria aldeia ou nos confins do mundo. O apátrida planetário cuja globalização do mundo real esqueceu de apagar as fronteiras. Pelo contrário, as fortaleceu. Paradoxalmente, no mundo exterior a Gael, o progresso tecnológico renovou a força das mais enraizadas ideias reacionárias. Isso não parece incomodar o personagem na sua caminhada interior.
Ao invés de Lucas, o autor, puxar Gael, esse é quem puxa Lucas, o autor. O jovem escritor cumpre, aliás, sua predestinação de profeta. Arauto de uma nova literatura, da qual está fadado a ser um dos pilares. Um escritor autêntico, genuíno, de talento não apenas muito promissor: com potencial forasteiro e sem fronteiras. Mas não trata-se, apenas, de uma vaga promessa. Lucas é um autor que já entrega mais que bastante e ainda acena com muito mais.
“Será que se eu tivesse lido Voltaire, Nietzsche e Kant, teria tomado melhores decisões na minha vida?”. É a primeira e instigante frase do livro, anunciando o fascinante e envolvente texto que se segue. Proclamando o nascimento de um escritor, autêntico como se fora um Dostoievski que trocou de século e de paisagem. Ao invés das estepes, o oceano infinito que banha o Recife. Ou como um Drummond desbravando os sertões da alma de um personagem do terceiro milênio. Um escritor, como, como, como quem mesmo? Difícil encontrar mais comparações.
Uma vocação de escritor verdadeiro, autêntico, original. Como Lucas Araújo, que vai muito além de ser um mero contador de histórias. O livro de Lucas, aliás, é à prova de rótulos. O jovem autor tem agora um desafio maior. Não ter medo do peso do próprio talento e prosseguir na trilha que escolheu, original e rica. Para além dos clichês. Tudo isso deságua em texto, lago cristalino, margeado por rara originalidade. Escrita que desafia e, ao mesmo tempo, encanta o leitor. Com o tempero do quero mais.
Por José Nivaldo Junior que ocupa a cadeira 8 da Academia Pernambucana de Letras
*Via Assessoria