Um Lindo Dia na Vizinhança – Crítica

Mr. Rogers: ninguém melhor do que Tom Hanks para interpretar o vizinho e amigo que todos gostariam de ter

Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, “Um Lindo Dia na Vizinhança” conta a cinebiografia do famoso apresentador infantil americano pelo olhar do jornalista Tom Junod

“Um Lindo Dia na Vizinhança”, que estreia nesta quinta (23), é mais que uma cinebiografia do famoso Mister Rogers. O apresentador americano de um programa infantil com canções e marionetes que foi ao ar de 1968 a 2001, abordava assuntos variados e até complicados, como divórcio, doenças e morte com a capacidade de encantar crianças e adultos. Isso é muito bem demonstrado em um cena no metrô, onde um grupo de crianças reconhecem Mr. Rogers e começam a cantar a música do tema do show de televisão e são acompanhadas em coro por todos do vagão.

Fred Rogers, vivido por Tom Hanks, em uma atuação incrivelmente carismática, precisa e encantadora, indicado ao Oscar 2020 na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, não é o centro das atenções do longa, mas sim o cínico repórter investigativo Lloyd Vogel (Matthew Rhys), personagem inspirado em Tom Junod. O jornalista aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire em 1998.

O roteiro de Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster baseou-se no artigo escrito por Tom (Lloyd), que tem a vida mudada ao conhecer o idolatrado apresentador. Pai de primeira viagem e casado com Andrea (Susan Kelechi Watson), Lloyd tem aparência melancólica e humor ácido em suas reportagens e entrevistas, que no decorrer da película mostra que tudo é reflexo por não conseguir desculpar o pai, Jerry (Chris Cooper), por ter abandonado sua mãe doente, que morre quando ele ainda é uma criança, e que volta para sua vida durante o terceiro casamento de sua irmã, Lorraine (Tammy Blanchard) para pedir perdão.

Ao conversar com o apresentador, ao longo de diversas entrevistas, Vogel começa a projetar diversas situações do passado com o pai, que se amplificam quando seu primeiro filho chega. O choque que  natureza quase que completamente fabulesca de Mr. Rogers, um modelo de humanidade no que ela tem de melhor, no sentido de respeito ao próximo e humildade, gera conflitos no jornalista, que indaga até que ponto o entrevistado é real ou apenas um personagem criado para a televisão, porque, para ele, é impossível que Rogers fosse sempre bondoso e atencioso com os fãs, família e colegas de trabalho. Inclusive, a diretora Marielle Heller induz o espectador a estranhar essa bondade e doçura do apresentador.

Porém, pouco a pouco, o comportamento de Rogers começa a fazer com que Lloyd aprenda lições de gentileza e perdão. Ele passa a rever os problemas de sua vida, sua relação com a família por um outro ângulo, fazendo também com que o espectador queira ter um vizinho/amigo como Fred Rogers, graças ao incrível trabalho de Hanks, que cativa e, por vezes, emociona.

Com uma fotografia charmosa, Heller faz uso das maquetes parecidas com as utilizadas no programa de Rogers para fazer as transições de tempo e espaço na trama, com sequências com granulação, tela em fullscreen e a aposta num figurino de cores neutras, inserindo o lúdico da  televisão clássica dos anos 1960.

“Um Lindo Dia na Vizinhança” lembra-nos de que ser uma pessoa boa é uma escolha e um exercício diário. Um filme para sair da sala de cinema sorrindo, mas pensativo em como podemos ser melhores apesar  apesar das vicissitudes da vida.

*Por Marta Souza