No início da retomada, brasileiros estão divididos sobre a flexibilização

Após mais de 150 dias de isolamento, pesquisa da Talk Inc desenha cinco perfis de pessoas a partir de suas respectivas visões da pandemia, aponta crise de confiança para com as instituições oficiais e grandes impactos na saúde emocional da população

O estúdio de pesquisa Talk Inc acaba de lançar o relatório “Zeitgeist da Pandemia: O Espírito desse Tempo e Visões de Futuro”, que buscou entender o impacto do Covid-19 na vida dos brasileiros após mais de 150 dias de isolamento. Enquanto o contato físico segue como uma falta forte, o dilema “sair ou não sair” se agrava pela falta de consenso, como sociedade, sobre o que se deve fazer. Avaliando o futuro próximo, vê-se agravar uma grave crise de confiança. Não sabendo em quem ou no que confiar, a sensação de “cada um por si” aumenta.

Na ausência de lideranças coordenadas, cresce um movimento em direção aos ‘micro-coletivos’: encontrar conhecidos, caminhar na vizinhança, consumir do pequeno produtor. Ao mesmo tempo, num cenário em que 66% dos entrevistados estão em isolamento de forma flexível, o que mais causa preocupação é a própria saúde e a dos familiares. E o impasse sobre sair ou não de casa ganha um verniz ético, já que pode representar um risco –à própria saúde, a da sociedade e a de pessoas próximas–, mas também um ganho para a saúde mental.

Na sequência da lista de inquietudes aparecem: a situação financeira individual, notícias sobre a pandemia, a educação e o ensino, e a perspectiva de trabalho e carreira. Já encontrar os amigos (45%) e familiares (43%), e realizar exercício físico (27%) estão entre as atividades que dão mais saudades. As reflexões sobre o atual cenário também têm impactado profundamente a saúde emocional dos brasileiros. A falta de sono ou dificuldade de dormir surgiu ou se intensificou nesse período para 60% dos entrevistados.

Diferentes brasileiros, diferentes visões

Tudo isso contribui para que as pessoas estejam divididas sobre a flexibilização. Enquanto 69% sentem medo e insegurança, 31% sinalizam se sentir preparada para voltar às atividades. Ao investigar as mudanças mentais e comportamentais provocadas pela forma como se está vivendo a casa, o trabalho e as relações, a Talk identificou cinco perfis de brasileiros a partir de suas distintas visões da pandemia.

Os Super Cuidadosos (34%), na maioria mulheres que estão trabalhando de casa, que saem pouco e sentem-se inseguros para voltar às atividades. Confiam apenas na medicina e são muito críticos com relação ao Presidente e aos governos estadual e municipal. Os Trabalhadores Receosos (18%), na maioria homens com relações de trabalho mais estáveis, não puderam deixar de trabalhar durante a pandemia. Saem de casa por necessidade e confiam na medicina. Os Cautelosos (17%) vêem o coronavírus como algo muito grave, mas estão abertos à flexibilização e sentem-se mais preparados para sair. Isso não quer dizer que estão tranquilos,. Os Passivos Esperançosos (19%), na maioria mulheres de classe mais baixa, muitas sem renda, têm uma visão positiva de como o Presidente lida com a pandemia. Esses estão divididos sobre voltar às atividades. Têm saído pouco, pois também entendem a pandemia como uma doença muito grave. Já os Descrentes (12%), grupo composto na maioria por homens, comporta o maior número de pessoas mais maduras e com faixa salarial acima da média dos brasileiros. Eles percebem a doença como algo não tão grave, saem bastante e são os únicos que se declaram “animados e felizes” com o retorno às atividades. Confiam muito no Presidente e pouco na OMS.

Como seguir em frente?

À parte a politização da pandemia, na semana da aplicação da pesquisa 46% relatou ter saído de casa uma ou duas vezes e 21% entre seis ou sete dias. Entre os lugares mais frequentados aparecem o mercadinho (59%), a casa de amigos (49%), ou igrejas e templos (36% ). Ainda assim, três em cada 10 pessoas diz que só se sentirá confortável para visitar os amigos entre três meses e um ano. E a partir do consenso de que vai demorar para se voltar a viver como antes, as pessoas estão entendendo as novas dinâmicas de aproximação com quem mais importa. Nesse sentido, a expansão da criatividade e um olhar atento a coisas mais simples passam a ter mais relevância. E o desejo de mudança permeia todos os aspectos da vida, para citar alguns exemplos, entram aqui a relação com saúde (72%), com dinheiro (70%), com o lazer (68%), com o consumo (67%) e com o trabalho (57%). E o senso de pertencimento volta-se ao que é próximo e conhecido. É hora de consumir de quem eu conheço e de ajudar o meu entorno.

A pesquisa “Zeitgeist da Pandemia: O Espírito desse Tempo e Visões de Futuro” foi dividida em duas etapas. Uma qualitativa realizada com 12 grupos de discussão online, e outra quantitativa com 1.354 pessoas de 18 a 65+ anos, das classes ABCDE, de todas as regiões, por meio de um questionário online. Segundo Carla Mayumi, sócia da Talk, “buscamos entender a pandemia não apenas pela forma como ela afeta o consumo e o mercado, mas investigando uma compreensão macro, social e comportamental de como estamos passando por essa crise como seres humanos. Esse tipo de pesquisa, chamado social research, que não é tão comum no mercado brasileiro, traz informações sobre as necessidades, atitudes e motivações de uma população, e pode auxiliar empresas e até mesmo o governo a desenvolver serviços, políticas e produtos que atendam às necessidades identificadas.”

Sobre a Talk Inc

A Talk Inc é uma empresa contemporânea de pesquisa de mercado e comportamento. Atuante no Brasil e no exterior, desenvolve  projetos com foco em trazer insights de inovação e análises  profundas para clientes e consumidores. Fazem parte das suas entregas pesquisas quali e quantitativas, implementação de processos de inovação e cocriação com marcas como Fiat, Unilever, Grendene, UHG, Uber, DPSD e Pepsico, entre outros.

*Via Assessoria