A crise das novelas

 


O Brasil sempre foi reconhecido como o país das telenovelas, e a Rede Globo como uma frutuosa fábrica de ficções, ganhadora de vários prémios EMMY Internacional, e detentora do faraônico Projac. Desde a década de 50, no qual foi produzida a primeira telenovela brasileira, Sua vida me pertence, em 1951, pela extinta Rede Tupi, e exibida apenas duas vezes por semana, este “nostro” país nunca mais deixou de se destacar neste âmbito da teledramaturgia. A primeira trama a ser veiculada diariamente foi 2-5499 Ocupado, pela também extinta Rede Excelsior, em 1963, tendo como protagonista a veteraníssima Glória Menezes, que foi agraciada com o Troféu Imprensa daquele ano, como melhor atriz.

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Várias outras emissoras de televisão se destacaram a partir deste primórdio, e produziram tramas de boa qualidade para os poucos recursos tecnológicos da época; Helena de Manoel Carlos em 1952 pela TV Paulista, O Direito de Nascer de Thalma de Oliveira em 1964 pela TV Rio, As Professorinhas de Lúcia Lambertini em 1965 pela TV Cultura. Nas décadas de 80 e 90, houve um “boom” em produções de novelas, e outras grandes emissoras se projetaram nesta fase, como a Rede Manchete que produziu O Imigrante, Dona Beija, Kananga do Japão, Pantanal, Xica da Silva, Mandacaru. A BAND com Perdidos de Amor, Meu Pé de Laranja Lima, Floribella. O SBT com remakes bem produzidos, tais como Éramos Seis, Sangue do meu Sangue, Os Ossos do Barão, Uma Rosa com Amor. Pantanal fez tanto sucesso no México, que foi considerada a grande inspiração dos autores mexicanos nas produções de telenovelas de lá. Apesar que exageraram um tantinho na carga dramática, gerando o famoso dramalhão mexicano.


VAMPO império da Rede Globo começou em 1965 com O Ébrio de José Castellar, mas foi Janete Clair com Anástacia(A Mulher sem Destino), no qual assumiu a trama, escrita inicialmente por  Emiliano Queiroz, que inaugurou e fez do horário nobre, as famosas novelas das oito, o maior poder criativo da Globo. Janete “bombou” com Rosa Rebelde, Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Pecado Capital, mas foi com O Astro que ela proporcionou uma audiência estratosférica a emissora, alcançando 100 pontos de audiência, recorde nunca ultrapassado. Após Janete, grandes autores ajudaram a lançar as novelas como produto de cultura de massa, como Ivani Ribeiro, Cassiano Gabus Mendes, Lauro César Muniz, Walter Negrão, Antônio Calmon. Fora as estrelas do atual horário nobre, Glória Perez(Explode Coração, O Clone, Caminho das Índias), Benedito Ruy Barbosa(Renascer, O Rei do Gado, Terra Nostra), Silvio de Abreu(Rainha da Sucata, Belíssima, Passione)Gilberto Braga(Vale Tudo, O Dono do Mundo, Paraíso Tropical), Aguinaldo Silva(Tieta, Senhora do Destino, Império), Manoel Carlos(Por Amor, Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida), e o badaladíssimo João Emanoel Carneiro(A Favorita e Avenida Brasil), que é considerado a Janete Clair da atual conjuntura, e a aposta da Globo na retomada das grandes audiências.

 

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Bem, diante desta história consagrada toda, porque este império “teledramatúrgico” Global brasileiro está em crise? Será um bloqueio artístico e criativo dos autores? Será que não tem mais pano pra manga? Benedito Ruy Barbosa já saiu da jogada após o fracasso de Esperança. Manoel Carlos com Em Família se despediu do horário nobre com o pior índice de audiência da história do horário nobre, e Gilberto Braga e cia está amargando números desastrosos com Babilônia. Estamos falando de nomes de peso, e com gabarito hiper reconhecido. Existe o fato da Rede Record está produzindo séries e agora a primeira novela bíblica brasileira, Os Dez Mandamentos, e com uma certa qualidade nas produções, mas é claro ainda longe de bater a Globo no know-how em tecnologia e efeitos especiais. Na verdade, o que tem pesado nestas questões de audiência, é o perfil do público. Em se tratando dos evangélicos, que estão dominando o Brasil, terem um repúdio mortal sobre os assuntos do mundo real, como por exemplo homofobia, as tramas que abordam este contexto são literalmente boicotadas, inclusive com campanhas fervorosas nas igrejas e na Rede Record, que é uma propriedade evangélica. Levando este processo em conta, as temáticas que deverão ser abordadas pelos autores do mundo real ficarão quase escassas, seriam tramas do horário das seis no das nove. Como as demais emissoras não se arriscam mais em produção de telenovelas, a guerra fica entre a Globo e a Record.

A Viagem

As Empreguetes


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Os noveleiros de plantão que se cuidem, pois não haverá novelas boas na TV, e será talvez o fim da tão conceituada e premiada teledramaturgia brasileira. Se os autores não puderem mais estampar a nossa vida real nas tramas, teremos que viver de remakes e tramas tipo Chocolate com Pimenta. Os remakes são maravilhosos, e a Globo tem feito vários com a devida excelência e os brilhantes efeitos especiais da nossa atual conjuntura. Mas, levar as baboseiras e o perfil dramalhão mexicano que a massa ama para o horário nobre, como se fossemos uma corja de bobocas, é melhor Deus levar logo.


Por Rodrigo de Magalhães