Torre Malakoff recebe exposição do fotógrafo sergipano Márcio Garcez

 

Fotógrafo registrou os processos de feitura e apresentação dos barcos de fogo, brincadeira popular sergipana realizada no período junino, que mistura fogos de artifício e artesanato


A exposição fotográfica “Barco de Fogo” do fotógrafo sergipano Márcio Garcez está até o dia 22 de novembro no térreo da Torre Malakoff, em Recife (PE). A obra foi contemplada na 2ª Convocatória de Ocupação da Sala Alcir Lacerda.

As 42 fotos nas dimensões 60x40cm da exposição registra os processos de feitura e apresentação dos barcos de fogo, uma alegoria pirotécnica que compõe os festejos juninos de Estância, distante 70 quilômetros da capital sergipana, Aracaju, ao lado das quadrilhas, das batucadas gingadas no pisa pés dos tamancos, das guerras de espadas e buscapés. Para o fotógrafo, esse é o início de um novo trabalho documental. “Procurei registrar e trazer ao público um fragmento dentro da imensidão de riqueza da cultura sergipana, nordestina e brasileira”.


Garcez acompanhou toda a feitura dos barcos, até as apresentações, num registro de quase 15 mil fotos em mais de 15 viagens ao município. “O processo começa em dezembro, na busca pelo bambu na mata, que tem o período certo da lua para acontecer, para que o bambu não rache. Ele tem um papel importante porque serve como suporte para a espada, que é o ‘motor’ do barco”, conta Garcez, que quando criança ia à Estância comprar os foguetes para brincar.

O folguedo consiste numa espécie de ‘corrida’ de barcos de fogo pendurados em um fio de arame de cerca de 300 metros de extensão. O ‘motor’ das embarcações são os foguetes, que queimam e fazem a alegoria ir e voltar, suspensa no fio. Ao final das exibições, é eleito o melhor fogueteiro. A comissão julgadora avalia critérios como queima correta dos foguetes, entrelinhas e chuvinha, cumprimento do percurso, peso, dimensões e beleza.

A curadora da exposição, a drª em História da Arte, Ana Virgínia Queiroz ressalta que o folguedo é transmitido de geração em geração, se consolidou como um ritual que se estende durante alguns meses e que, finalmente, envolve a população da cidade que participa celebrando a corrida dos barcos: “A concepção da tradição dos Barcos de Fogo está inserida em contexto coletivo, em um ambiente sócio-antropológico, os protagonistas são em grande parte pescadores que se debruçam em uma urdidura que os transforma nos famosos fogueteiros. O rito se inicia no mês de dezembro com a “tirada do bambu” no período da lua cheia. Durante meses os fogueteiros se reúnem, planejam e elaboram a estratégia do processo. Trata-se de um procedimento artesanal que exige conhecimento do manejo, dedicação e precisão técnica. Um ritual traçado em inúmeras etapas que vai desde a escolha dos bambus, a milimétrica feitura das tabocas, o pisar da pólvora no pilão até a elaborada composição do barco”.

Ana Virgínia Queiroz fez uma análise do olhar do fotógrafo Márcio Garcez. “Com expertise e primor ele registra a cosmologia em que está inserido o barco de fogo. Reconstitui através de uma cartografia iconográfica, o cotidiano dos fogueteiros e da festa e traduz todo esse transcurso ritualístico em universo imagético. Uma tessitura fotográfica que descreve o minucioso fazer, a corrida singrada dos barcos nos céus da cidade, os tons, o colorido, o ambiente lúdico e mágico das ruas e praças da urbe. O fotógrafo em sua maestria inscreve em luz, cores e sombras a exuberante poética dos barcos de fogo”. O folguedo barco de fogo está em processo de ser reconhecido como patrimônio imaterial do Estado de Sergipe, por meio do Iphan.


*Com informações da assessoria