Entrevista com o elenco de Tim Maia



A vida e a arte de Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como Tim Maia, músico de criatividade avassaladora e temperamento explosivo que transformou a música brasileira com doses irresistíveis de funk e soul. O filme recria sua trajetória desde a adolescência na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, onde começou a carreira ao lado de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, passando por sua temporada em Nova York, onde tomou contato com a música e o movimento negro, até sua explosão, com dezenas de “hits” que o tornaram um dos artistas mais populares e queridos do Brasil.



ENTREVISTA / BABU SANTANA

Tim Maia (adulto)

Nasceu em 1979, no Rio de Janeiro. Começou sua carreira no grupo de teatro Nós do Morro, da comunidade do Vidigal. Um de seus primeiros filmes foi Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, que se tornou um dos maiores fenômenos de público do cinema brasileiro recente. Desde então, trabalhou em dezenas de longas, entre eles Estômago (pelo qual recebeu o troféu de melhor ator coadjuvante no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e o prêmio especial do júri no Festival do Rio de 2007), Meu Nome Não É Johnny, de Mauro Lima (2008), Os Normais 2 (2009), Os Penetras (2012) e Julio Sumiu (2014).

Como foram os testes para o filme?

Fui convidado pela Marcela Altberg, produtora de elenco, que já conhecia meu trabalho. Fiz o teste com Mauro Lima, que já tinha me dirigido em Meu Nome Não é Johnny, e a Maria Silvia, preparadora de elenco. Eles me deram um texto, mas tive liberdade para improvisar, dentro da proposta que apresentaram. Pediram também que eu cantasse. Eu já tinha alguma preparação vocal, por conta da minha experiência no grupo Nós do Morro, onde encenamos muitos musicais. Algumas semanas depois me ligaram para contar que eu faria o papel junto com o Robson (Nunes), e depois disso foi só alegria.

Como foi o processo de preparação?

Eu e Robson fizemos a preparação juntos e, depois, com os atores que contracenariam mais com a gente, como Cauã (Reymond) e Alinne (Moraes). Como éramos dois atores fazendo o mesmo personagem, a preparação foi fundamental para criar uma simbiose entre nós. Trabalhamos gestos, posturas, e acabamos incorporando algo do jeito de um no outro. Foi mais um trabalho de entrosamento e de construção do personagem, até porque em nenhum momento estaríamos dividindo a mesma cena. Mas foi fundamental para conseguirmos uma sintonia.

Foi estranho dividir o personagem?

Não, porque o Mauro explicou, com razão, que Tim Maia poderia ser interpretado até por mais de dois atores. Se você pegar fotos dele ao longo dos anos, vai reparar que ele realmente parece pessoas diferentes. Não é uma “forçação” de barra, porque essa transformação se dá tranquilamente. Tim Maia tinha essa característica.

Na verdade, são três atores fazendo Tim Maia. Seu filho faz uma pequena participação, como Tim Maia criança…

É verdade. Eles estavam precisando de um menino para as cenas do Tim Maia menino, que se parecesse comigo ou com Robson. Falei: “bom, meu filho se parece pra caramba comigo”. A cena não tinha texto, era uma coisa simples, então falei: “Ah, bota o moleque…”. Eles pediram uma foto e toparam. O filme começa com ele.

Como foi o processo de caracterização?

Antes de tudo, precisei engordar bastante. Minha caracterização tem vários momentos: uma peruca black power alta; o meu próprio cabelo, que era um black um pouco menor que o da peruca; o cabelo da fase Racional, e depois o Tim Maia próximo da morte. Também tiramos um pouco da sobrancelha, que era muito grossa em relação à do Tim Maia, o que também ajudou a suavizar um pouco minha expressão, que é muito fechada. Para a fase final, ainda vesti um enchimento para aumentar o abdômen. Tive medo de parecer falso, mas acho que ficou bem convincente. Foi um trabalho tratado com muito carinho.


Ficou sob sua responsabilidade viver a parte mais barra pesada da vida de Tim Maia. Como foi? Alguma preocupação em especial?

Essa é a etapa da vida dele mais conhecida, mas nossa preocupação foi sempre fugir do sensacionalismo. Na minha trajetória, presenciei muitos amigos que tiveram suas vidas deterioradas por drogas, infelizmente. Comecei a imaginar como isso acontecia na cabeça de um cara que estava cheio da grana e famoso. Tim Maia ficava milionário e, de uma hora para outra, pobre. E começou a passar dificuldades de dinheiro. Procurei não me ater ao ídolo, mas me colocar no lugar da pessoa. E tinha a questão estética também. Como deve ficar a cabeça de uma pessoa que tem vários amigos que são verdadeiros astros, perseguidos pelas mulheres, e ele, por conta de sua aparência física, não? Ele sofria muito com seus problemas amorosos. Tim Maia foi quase um professor para quase todos os jovens como eu, que nasceram de uma mistura de raças, que enfrentaram a vida. Eu me sinto muito mais maduro depois do Tim Maia. A história dele está aí para nos ensinar.

Como a música de Tim Maia marcou sua vida?

Fácil: o primeiro contato que tive com a música de Tim Maia foi na barriga da minha mãe. Meu pai sempre foi um grande fã, ouviu Tim Maia a vida toda. Quando contei que ia fazer o filme, nem acreditou. Minha mãe, que infelizmente não está mais entre nós, ficou muito feliz. Eu me lembro de que, certa vez, quando criança, vi Tim Maia no Vidigal. Eu estava descendo o morro, de manhã cedo, e ele estava lá, sentado numa escada. Acho que estava virado. Voltei para avisar ao meu pai: “acho que é o Tim Maia ali na escada”. Ele me mandou ir embora e ficou ali observando o Tim, até que veio um carro e levou ele embora.


Como foi filmar o último show?

Eu me lembro de meu pai muito triste quando soube da morte de Tim Maia. Eu estava saindo para um baile quando vi a notícia na televisão. Filmar essa cena foi um sentimento muito forte. Carmelo, o filho dele, estava lá com seus filhos, netos de Tim. A diretora do teatro na época também apareceu por acaso e se emocionou muito. Para mim foi o encerramento de um ciclo. Tentei me concentrar na verdadeira imagem, tentamos fazer o mais próximo possível. Foi uma avalanche de informação e de emoção.

ENTREVISTA / CAUÃ REYMOND

Fábio

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1980. Começou a carreira em 2002, na televisão, e estreou em cinema dois anos depois no filme Ódiquê?, de Felipe Joffily. Desde então vem trabalhando constantemente em cinema, com destaque para os longas Falsa Loura (2007), de Carlos Reichenbach, Se Nada Mais Der Certo (2008), de José Eduardo Belmonte (que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Cine Ceará), Não Se Pode Viver sem Amor (2010), de Jorge Durán, Reis e Ratos (2012), de Mauro Lima, e Alemão (2014), também de José Eduardo Belmonte. Na TV, seus trabalhos de destaque mais recentes foram a novela Avenida Brasil (2012) e as séries Amores Roubados (2013) e O Caçador (2014).


Como você se envolveu no projeto de Tim Maia?

Tive uma ótima parceria com Mauro Lima em Reis e Ratos. Eles iam rodar Tim Maia e num primeiro momento não ia fazer, mas o filme foi adiado e, quando as filmagens começariam, o ator que estava escalado para interpretar o Fábio não podia mais. Fui convidado e por coincidência estava livre. Aceitei na hora.

Como se preparou?

A primeira coisa foi ler o livro do Nelson Motta, que é ótimo, hilário. E adorei o roteiro do filme. Meu personagem aglutina várias pessoas que passaram pela vida do Tim. Uma das coisas que mais me entusiasmaram foi o fato de ele ser o narrador da história. É um papel menor, mas que tem essa responsabilidade de conduzir a narrativa de um cara tão interessante, que mudou o show business no Brasil, não se submeteu às gravadoras e se impôs trabalhando de forma independente. Se não me engano, ele foi um dos primeiros artistas a tomar controle da sua obra. Procurei estudar como fazer uma narração da melhor forma. A voz não pode ser tão marcante, mas ao mesmo tempo precisa trazer o espectador para dentro da história. Tomara que tenha conseguido.

Seu personagem passa por várias fases, e tem várias caracterizações. Como foi esse processo?

Tive pavor da peruca, muita insegurança! (Risos). É muito estranho usar uma peruca. Mas hoje eu olho as fotos e vejo como realmente ela acrescenta ao personagem. Acredito que o resultado tenha ficado bom e me apresenta com uma caracterização muito diferente daquela que o público está acostumado, o que acho ótimo. É engraçado como o figurino é importante. Você veste a roupa, que é diferente das roupas de hoje em dia, e já sente algo diferente. Ele ajuda a te transportar para a época.


Você contracena bastante com Babu Santana, com quem já havia trabalhado em Não Se Pode Viver sem Amor, do Jorge Durán. Como foi o reencontro?

Foi ótimo, sempre nos entendemos muito bem. Na época dos ensaios, saíamos e tentávamos viver algumas das situações que amigos costumam viver juntos. Antes do Tim Maia filmei Alemão, onde trabalhei com vários amigos do Babu, do Nós do Morro. Então de certa forma a gente já estava numa vibe parecida, com muita coisa em comum.


Você já conhecia bem Tim Maia? Quais eram suas músicas favoritas?

Tomei mais contato quando fui fazer o filme, mas, antes, “Do Leme ao Pontal” foi uma das músicas mais constantes na minha vida. Depois do filme, a minha preferida passou a ser “Azul da Cor do Mar”, ainda mais depois de saber as circunstâncias em que ele compôs, deprimido porque não conseguia comer ninguém. Acho que podemos dizer com segurança que ele foi o maior cantor soul que o Brasil teve, e com certeza um dos maiores cantores da música brasileira. Quando você fala de Tim Maia você fala de suingue, de sacanagem, de coração. E de gente, muita gente. Nos shows que pesquisei, tinha sempre muita gente dançando. Ele provocava isso.


Você também é coprodutor do filme, e tem novos projetos também como produtor. Pretende investir nessa carreira?

Sim. Já fui coprodutor em Se Nada Mais Der Certo e Alemão, e a agora também do Tim Maia. No caso de Tim Maia não participei tanto do processo artístico, entrei na fase final e ajudei a captar recursos. Já no Alemão foi desde o começo. Como produtor, acredito que vou ter mais liberdade de criação. Atores costumam ser mais passivos, esperando receber um convite, mas quando você também é produtor, pode desenvolver seus próprios projetos ou ajudar a desenvolver aqueles que acha interessantes. Um produtor estabelece um diálogo diferente com toda a cadeia, principalmente com o diretor.


E que projetos você está desenvolvendo?

No momento, dois. Um deles com a diretora Laís Bodanzky. Estamos planejando um filme baseado na história de Dom Pedro I, que deverá se chamar Pedro. E com Felipe Bragança estou fazendo um projeto chamado Azuis, inspirado na história do escritor Rodrigo de Souza Leão. Nesses dois sou também protagonista, mas daqui a algum tempo me vejo também produzindo projetos em que não estarei envolvido como ator. Gosto muito dessa matemática: encontrar um projeto, combinar um ator que pode se dar bem com aquele personagem e aquele diretor, ajudar a levantar financiamento. Mais tarde, penso em trabalhar como ator em apenas um projeto por ano. Nos outros, quero ser só produtor.

ENTREVISTA / ALINNE MORAES

Janaína

Nasceu em Sorocaba, São Paulo, em 1982. Iniciou a carreira como modelo, aos 12 anos, e seu primeiro trabalho como atriz foi na novela Coração de Estudante (2002), na TV Globo. Entre seus trabalhos no cinema, destacam-se O Homem do Futuro (2011), de Claudio Torres; Heleno (2011), de José Henrique Fonseca, e O Vendedor de Passados (2014), de Lula Buarque de Hollanda.

 

Como foi personificar as mulheres da vida de Tim Maia em uma só personagem?

Seria muito delicado falar de uma mulher específica da vida do Tim Maia. Minha personagem, Janaína, é uma junção das mulheres que tiveram mais importância na vida dele. Acho que a decisão foi muito positiva, porque, no fim das contas, a personagem ganha complexidade, ela tem um pouco de todas as mulheres.



Você chegou a conhecer as mulheres da vida de Tim Maia, entrou em contato com elas?

Não. Como Janaína é a representação da mulher na vida de Tim Maia de uma forma geral, preferi conhecer a personagem pelo texto. Está tudo bem claro no roteiro, fizemos muitas leituras, e ainda houve o processo de preparação com a Maria Sílvia. Tudo isso já clareou bem o caminho.

Como foi o processo de preparação?

Eu e Maria Silvia conversamos muito sobre as cenas, pesquisando quais seriam os sentimentos e tentamos entender o processo da personagem ao longo do filme. No começo, Janaína está com 18 ou 19 anos, e ela passa por um amadurecimento. Pontuamos o drama de cada situação, cada cena. Tem também o fato de eu começar o filme contracenando com o Robson, e depois com o Babu.

Como você definiria a trajetória da personagem?

Janaína começa como uma menina ingênua e termina como uma mulher livre. A personagem começa muito novinha. Ela é parte daquela trupe das meninas que vai atrás dos cantores, conhece toda aquela galera da Tijuca. Mas não é uma fã qualquer, ela se destaca, é líder da turma. Logo ela sai com Roberto Carlos, Ronnie Von, Fábio (personagem de Cauã Reymond). Ela sai com todo esse pessoal, mas não enxerga o Tim. Ela tem aquela coisa da fã jovem de se levar pelo encanto, pela beleza, ela só quer saber do galã. Quatro ou cinco anos depois, quando se reencontra com Tim, nem se lembra dele. Mas acaba se apaixonando, principalmente por causa do jeito que ele a vê. Tim a coloca num trono, a trata como rainha. Nenhum dos outros príncipes e reis, nem o Roberto Carlos, a trataram assim. Acho que ela se apaixona pelo olhar que ele tem por ela. E a Janaína puxa esse homem, se torna uma coluna sólida de sua vida, um foco. Quando Janaína vai embora, ele se ferra totalmente. É bonita a história de amor dos dois. É uma história real, e não tem um final feliz…

Como foi ser dirigida por Mauro Lima?

Estou trabalhando com Mauro pela primeira vez. Ele é muito seguro, fala muito pouco, porque sabe exatamente o que quer. Mauro escreveu o roteiro com a Antonia Pellegrino, então ele conhece a construção do filme em cada detalhe. Tive a oportunidade de acompanhar o trabalho dele em outras ocasiões, e sei que estou em ótimas mãos.



ELENCO

Babu Santana – Tim Maia (adulto)

Robson Nunes – Tim Maia (jovem)

Alinne Moraes – Janaína

Cauã Reymond – Fábio

Luis Lobianco – Carlos Imperial

George Sauma – Roberto Carlos

Bryan Ruffo – Valcir Ribeiro

Tito Naville – Erasmo Carlos

André Dale – Wellington

Marco Sorriso – Cromado

Laila Zaid – Susi

Valdinéia Soriano – Dona Maria

Renata Guida – Rita Lee

Mallu – Nara Leão

Nando Cunha – Manuel Jacinto


*Com informações da assessoria

Fotos: Divulgação