14 de setembro: Dia do Frevo

 

Saiba Um Pouco Mais sobre o Frevo

 

Saiba Um Pouco Mais sobre o Frevo

 

Ainda na América Portuguesa, durante os três dias antes da Quarta-feira de Cinzas, brincava-se de “Entrudo”. A festa, comemorada no domingo, segunda e terça-feira, era uma despedida dos prazeres mudanos durante esses dias anteriores da Quaresma. Popularmente conhecido como “dias gordos”, a celebração fazia-se com abundância de vinho, da carne e dos desejos sexuais da pele. Em Portugal, tal festa antecedia a quarentena de Páscoa, tempo de abstinência, jejum e penitência para os católicos, que então eram proibidos de desfrutar do sexo.

Entrudo que, segundo a socióloga e mestra em antropologia Rita de Cássia Barbosa de Araújo, em seu livro Festas: Máscaras do Tempo – Entrudo, Mascarada e Frevo no Carnaval do Recife, no capítulo II, página 119, “vem da expressão latina, “intróito”, que quer dizer introdução, referindo-se, assim, ao período que introduz a Quaresma”, era uma festa social de grande importância para a cultura Portuguesa. Na chegada dos portugueses no Brasil, em 22 de abril de 1500 – documentos oficiais marcam tal data como referência do inicio da colonização, embora cartas e documentos tenham comprovado que o Brasil já havia sido visitado por outros exploradores -, trouxeram não só com eles os escravos e a futura cultura de resistência desses africanos – Maracatus, afoxés, entre outros -, mas também a festa da carne.

Esse Novo Mundo – A América – seria séculos depois um caldeirão cultural, salientando o Brasil e, especificamente, Pernambuco, em que se misturariam as culturas indígenas – nativos -, européia e africana.

Já no Brasil escravocrata, as famílias patriarcais, em sua maioria, brincavam o Entrudo em espaços privados, ao contrário das pessoas vítimas do siste ma escravocrata – negros, escravos, homens livres pobres-, que se reuniam pelas ruas e praças da cidade. Como afirma Rita de Cássia, no capítulo II do mesmo livro, na página 125:

“Ao público, correspondiam as batalhas travadas nas ruas, praças e chafarizes, onde predominavam os negros e negras, escravos ou forros e, também, os homens de pequeno comércio. O espaço privado limitava-se aos interiores dos sobrados patriarcais e às casa térreas, moradas da gente miúda.”

As brincadeiras dessa festa genuinamente portuguesa são bem parecidas com as do carnaval atual de Recife e Olinda, em que pistolas de água – muito mais comum em Olinda, usada para flertar com outra pessoa e também para se divertir-, era usada naquela época, ainda no século XVI, pela alta sociedade, em jarás de água que eram despejadas nas cabeças dos homens pelas mulheres. Tal prática ocasionou campanhas, da elite brasileira, contra esses “selváticos folgares que destoam completamente dos hábitos de povos civilizados”.

Como afirma Lucas Victor na introdução do Livro de Evandro Rabello, Memórias da Folia – O Carnaval de Recife Pelos Olhos da Imprensa 1822/1925, página 12:
“Com a independência do Brasil, as elites iniciaram a construção do Estado Nacional brasileiro, Tornou-se importantíssimo, neste período, combater toda manifestação cultural ligada ao passado de colônia portuguesa ou que não estivesse dentro dos padrões da civilização e da modernidade. O combate à brincadeira carnavalesca, tida como herança lusitana da época colonial, faz parte do processo mais amplo de procura de uma nova identidade distante da lusitana.”

Não só a elite nacionalista defendia essa lusofobia. Como os porta- vozes da mesma, os jornalista da época também, eram a favor do fim dos jogos do Entrudo. Assim, em um artigo publicado no Jornal do Recife de 12 de março de 1859, afirma um jornalista:

“este péssimo costume nos veio de Portugal, […] estava tão enraizado na população. Que não havia proibição da política que valessem, e nem multas que o impedissem; e era para ver que até os homens de posição e juízo tomavam parte ativa nesta guerra encarniçada de água, tintas, laranjas e ovos podres.”

O Brasil independente e esta festa, considera pelos nacionalistas de “festa da carne” e da pouca vergonha, teve que escolher um modelo substituto para o Carnaval. Concordando com tal formação o jornalista, Padre Lopes Gama, escreveu em 14 de fevereiro de 1844, no Diário de Pernambuco:

”pelo tempo de carnaval hajam diferentes folgares, hajam forças, e bailes mascarados, como na Itália, como em Paris, etc.,etc., ainda bem, são divertimentos, são passatempos, que podem ter graça e realmente causar muito prazer; as que recreio, que gosto pode haver em molharem-se, e emporcalharem-se uns aos outros?”

Ainda no livro de Rabello, página 14, Lucas Vitor traça os mom entos em que o carnaval da Província Francisco Rego Barros “de certa forma, a partir da década de 50, o processo de substituição do Entrudo pelo Carnaval de inspiração francesa e italiana no meio dos carnavalescos dos sobrados” foi um dos principais momentos da história para a caracterização do nosso carnaval atual. E conclui que “no caso da coibição aos entrudeiros pobres, a repressão parecia dar mais gás, a folia. Constantemente, ao longo do século XIX, jornalistas comemoravam o fim de um entrudo que nunca acabava.”. Dessa forma “Recife, nos meados do século XIX, aparece como um dos principais palcos de surgimento de novidades no Brasil”.

E nesse contorno Rita de Cássia afirma em seu livro – Festas: Máscaras do Tempo -, no capítulo II, página 153 que “Com o país independente, era preciso dar formas, feições e símbolos próprios à jovem nação, que legitimassem o Estado e consolidassem um sentimento de nacionalidade entre os filhos da pátria.”.


No século em vigor – XXI – O termo multiculturalismo, que quer dizer pluralismo cultural, atende justamente a descentralização, já que essa é mais uma conquista da cultura da diversidade, pois o multiculturalismo defende as culturas minoritárias atingida pela homogeneidade da etnia dita superior – branca.  Com tal reconhecimento da política da cidade do Recife, desde 2001, a mestiçagem cultural – O Brasil acopla culturas de diversas partes do mundo –  aqui existente, recebe reconhecimento público.

 

O Carnaval na Configuração do Milênio em Vigor

Século XVI, XVII, XVIII e XIX: Os portugueses chegam ao Brasil – no inicio do século XVI – e trazem consigo o Entrudo, festa tradicional da cultura lusitana. Além dessa transformação do Entrudo no âmbito da Colônia, os escravos carregavam os fascinantes batuques dos tambores. Ao longo de Oitocentos, ruas e praças da Província Francisco do Rego Barros aglomeravam pessoas que iniciaram a transfiguração de uma festa ainda “estrangeira”, mas que a cada modo e posição social iam adaptando-se à realidade “recifense”.

“A partir dos fins do século XIX, Momo passaria a reinar e governar com mais poder principalmente no espaço público. As multidões invadem as ruas e organizam-se em agremiações formados a partir da realidade de cada grupo social envolvido nos jogos carnavalescos. As formas de brinquedo carnavalesco recebiam diferentes tratamentos do Estado e suas instituições, responsável pela regulamentação e disciplina dos dias da folia e, claro, pós-folia. Repressão e Casa de Detenção para quem era da desordem, e proteção e apoio para quem era da ordem.” Lucas Victor na introdução do livro de Evandro Rabello, Memórias da Folia – O carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa 1822/1925, Página 32

Século XX: Com o Brasil independente – emancipado politicamente no século XIX -, a sociedade nacionalista, elite, reformulou a festa de Momo se influenciando nos bailes de máscaras de Veneza e a luxuosidade dos bailes de Paris. Porém os encontros populares – negros, escravos e pobres livres – iriam massificando, caracterizando e fortalecendo uma característica do carnaval dos clubes pedestres – “os chamados clubes pedestres reuniam foliões da classe trabalhadora urbana e da parcela marginalizada da população, excluída do mundo da ordem e do trabalho”, Lucas Victor na introdução do livro de Evandro Rabello, Memórias da Folia – O carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa 1822/1925, Página 29

“Tais agremiações começaram a fazer parte das folias recifences a partir de 1880. A classe pobre urbana arregimentava-se em clubes como o Caiadores, o Vassourinhas, o das Pás, o Borboleta, o Canna Verde, o Lenhadores e outras dezenas de agremiações. Como nota-se, os nomes quase sempre se referiam ao mundo do trabalho proletário. Ao invés de apresentaram-se como dispendiosos “carros alegóricos”, os clubes pedestres ensaiavam cantos e manobras, que tornaram-se grande atrativos de seus desfiles, animados por bandas de música do exército ou da polícia, pelas ruas das freguesias do Recife.”, Lucas Victor, ainda no mesmo livro de Evandro Rabello, página 29.

“as primeiras décadas do século XX assiste ao fracasso do Carnaval “civilizado” das elites. Dentre as causas principais da derrota elencadas pelos contemporâneos, destacamos a falta de auxílio financeiro dos comerciantes do Recife – essencial devido aos altos custos dos carros alegóricos – e a censura que a polícia vinha impondo às críticas alusivas à política, e aos costumes.” Página 29

Século XXI: Ainda com a festa voltada para a elite Brasileira – pois grande parte dos brasileiros e acima de tudo estrangeiros, com poder aquisitivo acima da realidade da grande população regional, vem conhecer o carnaval do Leão do Norte – Pernambuco renova e inova os antigos carnavais. O governo de João Paulo iniciou uma nova rota para o Carnaval, em que fortaleceu a cultura popular e descentralizou os festejos por toda a região Metropolitana. A política iniciada pelo ex-prefeito, João Paulo, começou com um forte punho ao retirar os carnavais fora de época – promoção cultural do axé músic – e em seguida iniciar uma política de descentralização do multicultural.

 

Veja:

Spencer, ontem, hoje e sempre