Motivada pelos prazeres da boa mesa e os benefícios da boa forma, uma batalha começa e termina diariamente na hora de comer. Engana-se quem pensa que o século 21 virou apenas palco para transformações no campo da tecnologia e comportamentos sociais.
No âmbito da cultura, as metamorfoses também foram muitas, e comida, como categoria cultural que é, não passou incólume a essas mudanças. Nos tempos de ipod´s, iphone´s e ipad´s, a mesa vem sendo cenário de batalhas na hora das refeições. É certo que o conflito é épico. Contudo, o certame que antes era apenas sintomático, agora se fincou nos hábitos alimentares pós-modernos. Trata-se da guerra entre a boa mesa versus a boa forma, e o uniforme desse jogo é uma fantasia. Ou melhor, uma farsa.
Tudo bem que neste século a humanidade caminha para um destino repleto de doenças, a grande maioria delas devido à alimentação inadequada. Nunca se morreu tanto de hipertensão, diabetes, obesidade e que tais. Como um antídoto para esse “genocídio alimentar”, vem se adotando uma série de planos “b” para as refeições. Uma opção nem tão saborosa, mas que os “doutores” te fazem acreditar que se trata da mesma coisa. “É apenas uma versão mais saudável”, apelam.
Há tempos que os vegetarianos substituem a carne vermelha (rica em proteína) pela proteína de soja. A prima pobre, de origem vegetal, bem preparada e temperada fica até saborosa. Mas, por favor, não venham dizer que tem gosto de carne, não. Porque não tem. A farsa deu tão certo que agora criaram a iguaria com gosto “parelho” ao frango. Não condeno tais hábitos, acho, inclusive, válidos, tanto que por uma questão de saúde, às vezes, me rendo a essa opção. Mas sem ilusões, sem me deixar enganar. Aliás, meu paladar não permite ser enganado.
No capítulo das sobremesas destaca-se o frozen yogurt, um gelado de iogurte natural, com 0% de gordura, baixas calorias e abarrotado de proteínas. E também é rico em fibras, prolongando a sensação de saciedade ajudando a suprir a fome. Combinação perfeita, não? Faz bem a alma e ao corpo. O problema é que passaram a chamar a sobremesa de sorvete de iogurte. Sim, sorvete. Aquele macio, docinho, calórico e encorpado. Uma falta de respeito com o gelado, penso eu. Sorvete é sorvete. Refresca as ideias, acalanta a alma, refrigera o corpo. É um mergulho para dentro. Engorda sim, e daí? Todo prazer tem seu preço. E o de bombar caloricamente pelo sorvete, eu pago com gosto.
Por Eduardo Sena- Colunista da Revista Click REC