¨Apesar de a Arte não ter a obrigatoriedade de ser social ou reflexiva é interessante quando coincide de o ser¨
A primeira noite do Cine PE 2010 começou igual aos outros anos, com um atraso de 47 minutos. Mas isso não diminuiu a vontade de Ana Carolina, estudante de cinema, e a primeira da fila, de assistir aos filmes do Festival. “Vim especialmente para ver Recife Frio, que é daqui de Pernambuco e O Bem Amado de Guel Arraes. Acho que a expectativa é grande nesses filmes, pelos diretores e pelo tema”. E Ana estava certa.
Recife Frio estava em sua segunda exibição em Pernambuco – a primeira foi no cinema da Fundação Joaquim Nabuco – e aspirando por várias outras. Antes da tão esperada exibição, o cineasta Kleber Mendonça, diretor do filme, já tinha conquistado o prêmio de melhor curta em 35mm, do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “A minha expectativa é maior para a apresentação no palco do que da reação do público”, brincou ansioso o cineasta antes de começar a cerimônia.
Na hora dos agradecimentos, Kleber fez questão de chamar toda a sua equipe e colaboradores, composta por: Graça Araújo, mestre de cerimônia do Cine PE e jornalista; e Lia de Itamaracá. O auditório com todas as 320 poltronas ocupadas ovacionou a atitude.
O filme é uma crítica social e bem humorada sobre o Recife, em que “apesar de a Arte não ter a obrigatoriedade de ser social ou reflexiva é interessante quando coincide de o ser”, explanou a designer Marcela de Holanda, que há três anos não perde uma edição do festival.
O encontro entre humor e reflexão social acontece em Recife Frio. O diretor conseguiu transformar a Veneza brasileira em um local frio, em todos os sentidos, sem pessoas nas ruas, com mendigos morrendo nas sarjetas, com pingüins na orla de Maria Farinha, com turistas revoltados, afinal estes compram a idéia de uma cidade tropical: praia, sombra e água fresca.
“A reação do público ultrapassou nossas expectativas”, salientou Simone Jumbert, produtora do curta. O criador dessa baderna climática ouviu muitas gargalhadas e aplausos espontâneos de toda a platéia. A interação dos expectadores com a obra não poderia ter sido melhor. “Fico feliz em saber que não somente o público, mas os entendedores de cinema também ovacionaram a exibição do curta”, confessa o diretor.
Kleber já dirigiu curtas como Eletrodoméstica, Enjaulado, Vinil Verde, Noite de Sexta Manhã de Sábado, crítico, entre outros, todos com temas que levam a reflexão e almeja outros vôos. Agora o cineasta está na pré-produção do seu segundo longa-metragem “O Som ao Redor”, que começará a ser filmado em julho deste ano.
