A cidade é um organismo vivo. Pulsa, cresce, se transforma. O Pátio de São Pedro, incrustado no coração de Recife (PE), é símbolo ancestral da memória pernambucana. Gerações de recifenses habituaram-se a fazer do Pátio mais que um cenário de passagem: ao longo de séculos, consolidou-se como espaço de permanência, de convívio comunitário e de vinculação do cidadão com a cidade em que vive.
Em sintonia com as potencialidades deste bem cultural, nasceu o Pátio Criativo. O projeto tem origem na sociedade civil, que se mobilizou para reivindicar o melhor aproveitamento do espaço junto à Prefeitura do Recife (PCR). A iniciativa impulsiona a vocação inata do local como ponto de encontro, de difusão cultural e de troca econômica.
Atenta à demanda da sociedade, a PCR prontamente arregaçou as mangas. Em constante diálogo com grupos sociais que se conectam ao Pátio, implementou uma série de ações para estimular a economia criativa local ao mesmo tempo em que valoriza o patrimônio histórico e cultural do bem.
Antes de tudo, veio a arrumação e recuperação do espaço: um programa de melhorias contínuas nas áreas internas e externas do Pátio marca o início dos trabalhos. Foram executadas ações de requalificação de fachadas, intervenções na estrutura interna dos equipamentos culturais e revitalização das calçadas. Em seguida, a PCR disponibilizou quatro imóveis para uso de empreendedores da economia criativa.
Os primeiros frutos logo geraram impacto no cotidiano do Recife. Abraçado pela população, o Pátio foi inundado de cores, sons, cheiros e sabores. Em meados de 2019 lançaram-se editais para selecionar ações do público voltadas ao projeto. A partir de agosto do mesmo ano, uma sequência de festivais alça o Pátio à condição de epicentro da vida cultural recifense.
Tradição gastronômica, indústria do turismo, música clássica, exposições artísticas e programação voltada ao movimento manguebeat – em homenagem a Chico Science – pautaram eventos que povoaram o bem centenário. Com ampla repercussão midiática, atraíram mais de dez mil pessoas ao Pátio de São Pedro, entre moradores e turistas.
Devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as atividades presenciais do Pátio Criativo foram temporariamente suspensas. A expectativa é que sejam retomadas no segundo semestre de 2021.
Descubra o Pátio!
Das fantasias irreverentes que passeiam ao som de marchinhas carnavalescas às tradições que se perpetuam na culinária e nos costumes de São João, as principais manifestações populares do Recife adotam o Pátio como um de seus palcos. Desde que foi construído, no final do século XVIII, o monumento ecoa e reverbera a riqueza do patrimônio recifense.
Antes da implantação do projeto, porém, a deterioração urbana e a insegurança estavam delegando ao Pátio um espaço coadjuvante no panorama cultural da cidade. Localizado no bairro de São José, é considerado o berço da cultura negra no Recife, símbolo de luta e resistência dos povos de matriz africana.
Lá se encontram marcos que irradiam o legado de toda a região Nordeste: a Estátua do poeta negro Solano Trindade, o Memorial Chico Science, a Casa de Carnaval, o Museu de Arte Popular, o Memorial Luiz Gonzaga e o Núcleo Afro do Recife. Imerso em tradição, o local ainda delicia o paladar de visitantes e moradores com o que há de mais típico da gastronomia pernambucana. Com ingredientes especiais e um acervo singular, o Pátio Criativo só poderia se consolidar como uma receita de sucesso.
O Pátio de São Pedro e o Iphan: uma história de muitas páginas
O monumento integra o conjunto arquitetônico formado pela Igreja de São Pedro dos Clérigos e o Pátio de São Pedro. Do pátio é possível ter uma visão global do templo, emoldurada por um casario antigo. Trata-se de um dos primeiros bens protegidos pelo Iphan, em 1938, somente um ano após a criação do Instituto.
Entre casas térreas e sobrados, outras 63 edificações integram o conjunto. O bem foi inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes. O Iphan investe aproximadamente R$ 7 milhões em serviços de restauração da igreja, considerada uma das mais monumentais do Brasil.
Agora, com a vitória do Prêmio Rodrigo, o Instituto fortalece o reconhecimento deste bem como elemento fundamental do Patrimônio Cultural Brasileiro. Assim como a cidade, o Pátio é um organismo vivo. Pulsa, cresce, se transforma. Mas sem deixar pra trás o rastro das memórias que nele fizeram morada.
*Fotos: divulgação. Todas as imagens são anteriores à pandemia.
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
A ação “Projeto Pátio Criativo” foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020, na categoria “Patrimônio Material”, segmento “Administração Direta e Indireta municipal”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil.
*Via Assessoria