Faz sentido usar IGPM para reajuste de aluguéis?

IGPM tem alta acumulado de 37,04% nos últimos 12 meses. No mês de maio a alta foi de 4,10%. Faz sentido utilizá-lo como parâmetro para reajuste de aluguéis?

Qual a origem do IGPM? 

O IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) surgiu em 1989, pela Fundação Getúlio Vargas e, desde muito cedo, começou a ser um índice muito utilizado para o reajuste de preços de contratos, como os aluguéis, energia elétrica, escolas, planos de saúde e imóveis.

Para que o IGPM é utilizado?

Os índices costumam ser utilizados no mercado como uma forma de facilitação na hora de reajustes periódicos. Trabalhar com índices facilitam na hora de renegociar preços de serviços ou produtos. E índices de preços são uma boa alternativa, por representar, muitas vezes, o aumento natural da demanda por produtos na economia.

Porém, é muito importante entender o conceito por trás do índice IGPM e o motivo pelo qual ele não tem sido utilizado para o seu propósito no último ano.

Como o IGPM é composto?

 O IGPM é um índice de preços composto por 3 outros índices:

  • IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo): Compõe 60% do IGPM
  • IPC (Índice de Preço ao Consumidor): Compõe 30% do IGPM
  • INCC (Índice Nacional de Custo da Construção): Compõe 10% do IGPM

Sendo assim, sessenta por cento do preço do IGPM é representado pelo IPA, que é um índice de preços relacionados a commodities, que não relação direta com a demanda por aluguéis nas cidades, embora seja o maior responsável pelo preço dos reajustes.

Para se ter ideia, no ano de 2020, o IPA anual atingiu 31,64%. E o grande responsável por isso foi o dólar, visto que os preços das commodities são estabelecidos em dólar. Isso elevou o resultado do IGPM para 23,14% no ano de 2020, contra uma inflação medida pelo IPCA de “apenas” 4,52% no mesmo período.

Por que, então, reajustar em 23,14% o preço dos aluguéis, em plena crise econômica causada por uma crise sanitária, enquanto a inflação não passou de 4,52%?

Faz sentido utilizá-lo como reajuste de aluguéis?

Segundo João Scognamiglio, sócio e planejador financeiro da Múltiplos Investimentos, não faz sentido, principalmente quando houver um boom no preço das commodities. E isso tem sido observado. Diversos fundos de investimentos imobiliários têm revisto sua política de reajustes e trocado voluntariamente o reajuste do IGPM pelo IPCA.

Isso porque o mercado de aluguéis é precificado, naturalmente, pela oferta versus demanda e, a insistência na aplicação de índices que não traduzem a realidade do mercado, pode fazer com que muitos imóveis se tornem vacantes.

Ou seja, o aumento no preço do aluguel pelo IGPM pode trazer distorções que não condizem com a demanda do momento.

No mês de maio/21, o IGPM anual atingiu 37,04%, aumentando ainda mais essa distorção. Na minha visão, já está na hora de rever o IGPM como índice de reajuste de preço de moradia.

Qual a sugestão?

Flexibilidade. A sugestão do planejador financeiro, João Scognamiglio, é a utilização do bom senso por parte do proprietário na hora de prover o reajuste. O IPCA pode ser utilizado como parâmetro, já que reflete no preço do consumo de produtos e serviços. Além disso, o proprietário pode estudar como estão os aluguéis na sua região e utilizar como parâmetro para reajustes. O bom senso sempre é a melhor receita nessa negociação.

*Via Assessoria