Uma segunda versão de Aquarius

 


Já não é mais novidade no Brasil, a potência artística, política e social do filme Aquarius, já que está em cartaz por todo o país. Porém, assisti-lo no cinema São Luiz no Recife, é diferente, é uma experiência bem mais intensa. Talvez por ser um dos últimos cinemas de rua do Brasil, no formato de cine-teatro, e o único cinema balcão ainda em atividade. Ele foi inaugurado em 1952, é tombado como monumento histórico de Pernambuco, e fica situado numa área muito emblemática do Recife, a Rua da Aurora.


A imagem plástica do São Luiz já chama bastante atenção pelos ricos detalhes clássicos de seus recintos, sua beleza arquitetônica surpreende mesmo aqueles que já conhecem sua estrutura. Antes de começar o filme, os vitrais laterais da gigantesca tela se acendem e a plateia bate palmas, é um show a parte. Há emoção no simples ato de sentar e assistir a um filme, é como em um culto na igreja, ficamos atentos e receptivos aos sinais do coração. E no término do filme, como se estivesse em uma exibição de festival de cinema, a plateia bate palmas novamente, para fechar com chave de ouro.

 

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Aquarius é uma obra de arte contemporânea e necessária neste momento político e social do Brasil. Denuncia a especulação imobiliária, o preconceito social, o racismo, o puritanismo hipócrita, e promove a igualdade entre os gêneros, a proteção da autoestima da mulher, a liberdade de expressão e o respeito no seu mais profundo significado. O diretor Kleber Mendonça Filho foi muito feliz em todas as abordagens propostas pelo filme, e a espontaneidade e a naturalidade de Sonia Braga como a protagonista, é simplesmente um presente. Você sai do cinema com vontade de brigar por tudo que é justo, contra toda a politicalha que nos assombra nesta atual conjuntura, você sai do cinema uma pessoa melhor, mais politizada.


A beleza maior do filme é a riqueza humana de seus personagens, com os desdobramentos que fazem total sentido e se conectam entre si sem grandes explicações, e ainda sonorizados por uma trilha musical de altíssimo bom gosto. Ver o Recife através de Aquarius assusta pela realidade das abordagens, mas encanta por mostrar a maior metrópole do norte e nordeste tal como ela é, com problemas sérios de uma grande cidade, mas com uma beleza cultural e natural de orgulhar.


Aquarius e São Luiz é um casal perfeito, não tem sexo determinado, apesar que os artigos definidos denunciam a sexualidade do casal nesta proposta de união. Mas, o importante é a beleza, a emoção, a arte que ambos transmitem por “osmose”.

 

Por Rodrigo Magalhães