Quem é Recife?


“… A capital do meu Pernambuco, capitania que deu mais lucro …”, nosso saudoso “Reiginaldo” Rossi disse e todo mundo ouviu. Disse mais: “… Recife tem encantos mil …”, que foi uma das mais reais declarações de amor à Veneza Brasileira, vulgo Recife. Ela é hoje a maior metrópole do norte e nordeste do Brasil. Foi dela que os judeus foram expulsos e se mudaram para fundar a que seria a capital do mundo, New York. Foi nela, que o Brasil colonial recebeu um povo de cultura rica e significante por vinte e quatro anos no século VXII, os holandeses, e fizeram dela a referência arquitetônica, cultural e econômica nos dias atuais. Depois desta “colonização abençoada”, o Recife passou a ser a capital do nordeste brasileiro, onde foi instalado o Comando Militar Nordestino, a primeira Embaixada Americana do país, a SUDENE, a CHESF, o Porto Digital, que a nomeou de a Capital Tecnológica do Brasil.


Mas é claro, que tudo isso, também gerou o inchaço urbano, que a nomeou de a capital com o pior trânsito do Brasil. Este inchaço também gerou favelas, pobreza, violência, um caos inevitável, mas que é genuíno em todas as metrópoles do mundo. Independentemente, destas manchas sociais, ela é a cidade mais rica do nordeste, no qual seus habitantes detém a maior renda per capita da região. Aqui, instalaram-se grandes empresas, atraídas por esta estampa econômica, e vários escritórios regionais, de empresas que precisariam ser representadas no mercado regional. Recife se tornou um imã para o bem e para o mal.


A cultura desta cidade é conhecida mundialmente. O carnaval dela é um dos melhores e maiores do país mais carnavalesco do mundo. O Frevo, o Maracatu, o Caboclinho, não existem em nenhum outro lugar, e um bloco tradicional dela é o maior que existe no planeta Terra. Se a pessoa transitar pelas ruas e não focar nos problemas, verá casarios belíssimos, edificações super sofisticadas, pontes históricas, esculturas surpreendentes, jardins únicos, e muitos deles assinados por um dos maiores paisagistas do mundo, o brasileiro Burle Marx. Recife é a capital brasileira que detém a maior quantidade de praças deste renomado artista natural. A história desta cidade é rica em lutas, batalhas, tudo em nome da nação, são pontos históricos por toda parte, e de fato é um lugar de pessoas arengueiras, que não levam desaforos para casa.


Definitivamente, é impossível, não mencionar a herança cultural que uma família inglesa trouxe para esta cidade em séculos passados, os Brennand. Um dos ícones da cultura pernambucana, Francisco Brennand, é reconhecido como um dos mais brilhantes ceramistas do mundo, cujo o atelier, situado no bucólico bairro da várzea, é inacreditável pelas características singulares das suas obras. Também nestas terras do antigo Engenho São João, o irmão dele, Ricardo Brennand, um rico colecionador, construiu um castelo medieval único no Brasil, que detém uma coleção magnífica de armas, e a maior coleção das obras do pintor neerlandês Frans Post do mundo. Pintor este trazido pelo Conde Mauricio de Nassau, o tal “cara” da colonização holandesa no Recife. Obras de Francisco Brennand estão espalhadas por toda a cidade, e o parque das esculturas, nos arrecifes, perante o Marco Zero Recifense, é uma vitrine do seu talento para todos que ao Recife chegam.


Muitos artistas desta metrópole cosmopolita, de várias épocas, cantaram esta cidade com versos que “é de fazer chorar…”. Capiba e Lenine representam esta grandeza musical, em ritmos e momentos distintos, mas com um respeito igual e incomensurável. Escritores renomadíssimos, como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, e a profunda Clarice Lispector, escritora naturalizada recifense, amaram o Recife em suas crônicas e poemas. Fizeram das ruas de cá, passarelas da poesia. Na pintura, Cícero Dias e Lula Cardoso Aires, engrandecem o nome desta cidade, através de cores pulsantes, que contam a história deste lugar com os olhos gratos, por terem aqui nascido. Aliás, deveríamos usufruir das cores do recifense internacional e “pop star”, Romero Brito, em nossas paredes urbanas, tal como Miami, sua atual residência, faz. Mas, será que só estas ilustres pessoas veem a alma belíssima que a cidade tem? Reconheço que todas às vezes que vou ao centro do Recife, fico crente que o fim está próximo, mas isso por causa do calor faraônico e da loucura das pessoas, que me causam surtos. Os problemas existem, e muitos deles em função de conterrâneos que desprezam a cidade, sujando, pichando, e também da omissão do poder público. Mas, a beleza existe, só basta abrirem os olhos. Um brilhante poeta, locutor esportivo e compositor recifense chamado Antônio Maria, disse ao se mudar para o Rio de Janeiro: “… De que adiante se o Recife está longe, a saudade é tão grande que eu até me embaraço …”. Seria ótimo, que as pessoas aprendessem que muitos problemas urbanos são frutos da falta de educação doméstica de cada um, e de uma cultura absurda de cultivo de hábitos suínos, mas que pode ser mudada, basta querer. O Recife merece nosso zelo.


Por Rodrigo de Magalhães
FOTOS: POLINY AGUIAR