Paradas Da Diversidade: Corpos, Sujeitos e Discursos Em Marcha

 


Trios elétricos, paetês e purpurinas, muito glitter e “carão”, esses são alguns dos elementos que tornam a parada contemporânea

 

 


Trios elétricos, paetês e purpurinas, muito glitter e “carão”, esses são alguns dos elementos que tornam a parada contemporânea

 

 

No calendário de ações e lutas dos movimentos sociais, hoje, apresenta-se uma data quase que hegemônica em boa parte das cidades do Brasil e do mundo: o dia das Paradas da Diversidade. Originalmente realizado em meio a protestos, piquetes e evocações de “palavras de ordem”, esse evento surgiu na contramão dos valores e preceitos apontados como éticos e morais aos sujeitos em convivência social. Contudo, no mundo atual, embora as Paradas ainda entalem gargantas, contrariem interesses e valores, elas tomaram formas e expressões
diferentes das que tinham em tempos de outrora.

Trios elétricos, paetês e purpurinas, muito glitter e “carão”, esses são alguns dos elementos que tornam a parada contemporânea essencialmente “queer”, “estranha” ao paradigma seco e sério dos protestos e/ou reivindicações militantes. Contudo, não defendemos as críticas de que esse evento perdeu sentido, força política, ou pior, perdeu a graça e caiu na mesmice.


Muito pelo contrário, se tomarmos por base que essa é a maior manifestação política humana, mobilizando milhões de pessoas todos os anos, afirmarmos que isso significa e muito, mesmo que compreendamos a alienação de boa parte dos que estão lá, muitos sequer sabem das leis, das pautas da categoria LGBT, ou pior, só saem do armário uma vez ao ano, no dia da realização da Parada. Porém, quando milhões de LGBTs e heterossexuais saem às ruas liderados pelos trios elétricos, (in) conscientemente eles (re) afirmam sujeitos, corpos e práticas dotadas de desejo, erotismo, amor, subjetividade. Os corpos que circulam nas Paradas, muitas vezes relegados ao gueto, não são assexuados, eles saem às ruas para dizer basta de tanta violência e preconceito, clamam o amor ao próximo, um discurso proferido comumente, porém pouco praticado. Eles vão, em plena luz do dia, não mais na “calada da noite” , para afirmar que existem, têm direitos, e assim o sendo, afirmam-se, afirmam aqueles que no armário estão, significam o mundo e são significados pelo mundo. É uma prática dialética, necessária e potencial contra a hegemonia de uma sociedade neoliberal classista, machista, heterossexista e homofóbica.


Militar, protestar pode e deve ser feito em meio ao clima de paz, endurecimento sem perder a ternura. Basta de tanto sangue, lágrima e suor derramados em decorrência da intolerância, do crime de ódio. No ano de 2010, a Parada da Diversidade em Pernambuco tem como enfoque a luta pelos direitos “Direitos: queremos inteiro, não pela metade!”.

Viva a Para da Diversidade, ela nos dá visibilidade. Saímos às ruas em função de superar esses e demais preconceitos, humanizar o humano. Levantemos e cantemos, porque o grito só não basta”.

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Artigo de Luciano Freitas Filho:Departamento de Letras, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco. Membro do Núcleo de Cidadania Homossexual da UFPE . Vice-presidente da ONG Movimento Gay Leões do Norte e membro da Gerência de Direitos Humanos da Secretaria de Educação de Pernambuco