Um duelo desigual

 

Uma é baiana de Juazeiro. A outra, carioca de São Gonçalo, radicada em Salvador. As duas, pernambucanas por uma noite, protagonizaram um duelo inédito: dividir, no mesmo dia e local, as atenções para um público de mais de 60 mil pessoas. Ivete Sangalo e Cláudia Leitte foram o mote do Maior Show Mundo, no último sábado(31), na área externa do Centro de Convenções, que ainda contou com as apresentações do pagodeiro Belo, dos sertanejos Jorge e Matheus e da banda Cheiro de Amor.

 

Uma é baiana de Juazeiro. A outra, carioca de São Gonçalo, radicada em Salvador. As duas, pernambucanas por uma noite, protagonizaram um duelo inédito: dividir, no mesmo dia e local, as atenções para um público de mais de 60 mil pessoas. Ivete Sangalo e Cláudia Leitte foram o mote do Maior Show Mundo, no último sábado(31), na área externa do Centro de Convenções, que ainda contou com as apresentações do pagodeiro Belo, dos sertanejos Jorge e Matheus e da banda Cheiro de Amor.

 

Eram quase 21h quando Ivete subiu no seu potente trio Demolidor para iniciar sua apresentação. Como prometeu no twitter, veio vestida de branco. Sua banda também estava clean. A baiana fez uma espécie de ensaio para o show de réveillon que fará no Recife, o preview teve tudo como manda o figurino: contagem regressiva, queima de fogos e votos de amor e felicidade. A cantora provou que é a artista mais querida por essas latitudes, o público constantemente a reverenciava, gritando seu nome em coro. Ivete aqui, se sente em casa. “Não escondo de ninguém que meu coração é metade baiano e metade pernambucano. Pois foi aqui, há 17 anos, que comecei a cantar, e desde então, nossa história de amor só faz aumentar”, afirmou a cantora.

Durante esse tempo de carreira, Ivete conquistou fãs, um público simpatizante e sucessos, um dos ponto altos do show foi quando a cantora lembrou dos tempos do extinto Recifolia,  quando puxava o bloco Balança Rolha, emplacando hits da época como “Flores”, “Eternamente”, “Pegue aí”, “Tá tudo bem” e “Me abraça”. Não era preciso procurar muito para ver as pessoas com lágrimas nos olhos, sentindo a nostalgia dos tempos de folia na Avenida Boa Viagem. É difícil descrever a relação entre Ivete e Recife, talvez seja algo entre majestade e discípulos. “Quem manda nessa p***** aqui sou eu”, setenciou. As pessoas concordaram e fizeram tudo o que ela pediu. Aprenderam e cantaram as músicas novas “Acelera aê” e “Desejo de amar”, dançaram até o chão em “A galera” e se confraternizaram na queima de fogos.

Logo depois, quem subiu ao palco foi Belo. Assistir a um show do pagodeiro é, no mínimo, interessante. Trata-se de uma experiência antropológica. Chega a ser comovente ver uma multidão cantar, em coro, músicas que você sequer ouviu. Belo arranca gritos do público que parece se identificar com as letras das músicas. Uma espécie de Zezé di Camargo do pagode. Séquito esse, que põe a faixa com o nome Belo escrito com glitter na cabeça, e segura a foto dele na mão. Como é o caso da estudante Mariana Cabral, que junto ao seu irmão, foram especialmente para ver o cantor. “Belo toca no fundo coração, as músicas são incríveis”, garante a fã do pagodeiro.

De repente começa um burburinho. Um helicóptero começa a sobrevoar o palco que Claudia Leitte fez a apresentação de sua nova turnê “Rhytmus”. Especulou-se que ela iria descer dele, já que alguém de lá de cima acenava para o público e mandava beijos. Pura ficção. Após 10 minutos de hélices girando, o helicóptero vai embora. A cena traduz o que o foi a apresentação da ex-líder do Babado Novo: fake. Com bastante efeitos técnicos, com direito a descida de rapel no palco, pirotecnia e ilusionismo, o show da cantora foi engessado. Tudo era previsivelmente programado, até os cumprimentos da loira para o público. Uma proposta que dá muito mais certo com divas internacionais como Madonna, Lady Gaga e Beyoncé, mas que para um show como aquele não era apropriado. Claudia, que notoriamente se inspirou nelas na nova turnê, acabou fazendo uma apresentação digna de Wanessa Camargo (com direito a playback). Esses rebuscamentos made in EUA que a cantora apostou pareceu ser uma tentativa de compensar sua inexpressiva presença de palco.

Foi um show voltado para seus fãs, esmagadora minoria. Em determinado momento, o show pareceu acabar para grande parte do público, mas ela continuou no palco, até que surge Belo, para fazer um dueto de “Don Juan” com a moça, foi o ápice da apresentação. E olhe que ela tentou, lembrou sucessos do Babado Novo, frevou, rebolou, dançou de forma erótica e sambou. Em vão. Não era noite dela. Já passava das 2h da madrugada quando Cheiro de Amor subiu ao palco, conseguiu prender o público que, mesmo cansado, não arredou o pé e cantou os sucessos da decana banda, hoje liderada por Aline Rosa. A cantora lembrou canções imortais como “Lero Lero”, “Vai sacudir, vai abalar”, “Rebentão” e o hit “Pense em mim”.