Um mar de comidinhas

 
 
Seja nas areias de Boa Viagem, Coroa do Avião, Gaibú ou Porto de Galinhas, uma cena é sempre recorrente: um verdadeiro desfile de comidinhas praieiras para serem consumidas ali mesmo, sem muito requinte.

 
 
Seja nas areias de Boa Viagem, Coroa do Avião, Gaibú ou Porto de Galinhas, uma cena é sempre recorrente: um verdadeiro desfile de comidinhas praieiras para serem consumidas ali mesmo, sem muito requinte.

 

O luxo fica por conta do sabor. Nada se compara ao gostinho de comida de praia. Aliás, “ratos de praia” de verdade sabem que frequentar um balneário não se resume a um mergulho no mar, é um combo formado por cerveja gelada ou caipirinha, e um sem fim de acepipes para aplacar a fome. A propósito, desconhece-se outro lugar que abra mais o apetite que a praia.

 

 

 

 

E é assim em todo o Brasil. A diferença é que, neste segmento, nós somos imbatíveis. Se o Rio de Janeiro conta apenas com as empadinhas, os insossos biscoitos Globo e, há pouco tempo, queijo coalho assado, nós podemos nos gabar de ter multidiversidade e multietnicidade gastronômica até na areia das praias. Por aqui, os hábitos alimentares também estão intimamente ligados com o verão. E como nessas latitudes não existe, na prática, a divisão das quatro estações (sol a pino durante todo o ano), os belisquetes litorâneos são muito mais do que um simples prato. São motivadores e protagonistas de uma forma de exercer a pernambucanidade no mar.

Nessa esfera atua o caranguejo. O quebrar e chupar de patas anuncia gustativamente às altas temperaturas. Alaranjado, graúdo, com ou sem cabelo, à água e sal ou ao leite de coco, com o caldinho que sai dele escorrendo pelos braços e peito, é irresistível de qualquer maneira, protagonista gastronômico das areias. Parelho a ele, está a Agulhinha frita. O “inha” nada mais é do que certidão de afeto de pernambucano criado por “painho e mainha”, pequena é superlativa no sabor, um delicioso paradoxo. Acompanhada por limão cortado em quartos e guardanapo para limpar as mãos. Não carece nem de garfo nem de faca. Pega-se com a mão, e saboreia-se sua singularidade e sua crocância.

O sufixo afetivo “inho” também se aplica à outro símbolo das praias pernambucanas. Uma dica: pode ser de feijão, camarão, peixe, marisco, sururu. Guarnecido por ovo de codorna, torresmo, milho verde e coentro. Pelo sul é conhecido como sopa. Aqui é caldinho.  E, mesmo com o suor pingando e sol esfumaçando, não há praia sem ele. Outro obelisco gastronômico do litoral pernambucano tem singularidade. Pode-se dizer que é uma das poucas coisas que comemos crua e ainda viva. Um balde prateado carregado singelamente anuncia a sua chegada. Aberta na hora, e temperada apenas com cominho, pimenta do reino, azeite e limão, as ostras dão a sustância e virilidade para encarar o resto do dia.

Ainda existem outros itens servidos nesse ambiente, mas não tão representativos e emblemáticos como em Pernambuco. Cachorro-quente, queijo coalho na brasa com mel e orégano, espetinhos, camarões, peixes fritos, são várias as opções. Entre elas, uma que virou lenda popular: o frango é assado de véspera, no dia é guarnecido com farofa amarelinha de colorau e vinagrete. Mamãe arruma tudo, pega o ônibus, e se aloja naquele cantinho especial de sempre de Boa Viagem com a família. Afinal, também não há praia sem farofa.

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