Meu nome é Natália de Souza,tenho 20 anos e sou um futura estudante de letras (UFPE) e pretendo trabalhar com comunicação, de preferência atuar como jornalista nessa área mais cult. Trabalho para o Governo do Estado, mas do que gosto mesmo é ler e escrever nas horas vagas, principalmente se o assunto for algo relacionado à cultura ou à literatura.
Tenho algumas cartas, ou melhor dizendo,trechos delas que foram publicadas pela Revista Continente e adoraria ter um texto publicado na Revista Click Rec.
Historicamente, o ano de 1945 é marcado pelo término da Segunda Guerra Mundial, e em termos de Brasil, pelo fim da Ditadura de Getúlio Vargas. É de acordo com tal contexto histórico, que os escritores, menos exigidos social e politicamente, passam a empreender uma pesquisa estética em torno da linguagem, visando a buscar novas formas de expressão ,é portanto, dentro dessa perspectiva,de inovação que entra em cena a chamada prosa poética de Clarice Lispector.
Embora desde 1945, não só a literatura, mas as artes, de modo geral, estivessem envoltas numa atmosfera de renovação estética, as manifestações artísticas que mantinham certa preocupação social continuavam a ser produzidas. É, em meio a essas tendências, que Clarice Lispector lança a novela A Hora da Estrela , na qual narra a história de uma retirante nordestina que mora no Rio de Janeiro e “somente vive, inspirando e expirando”, “incompetente para a vida” e que segundo escreve Lispector,” vivia numa cidade toda feita contra ela”.
Assim como em romances anteriores, a personagem Macabéa é construída a partir do fluxo de consciência, recurso que vai além da introspecção psicológica, quebrando os limites espaço- temporais que tornam a obra verossímil. Desse modo, Clarice constrói Macabéa em completa desconexão com o mundo que a cerca, o que, para alguns críticos, é um ponto da narrativa que apresenta ligações autobiográficas com a escritora, já que, esta é considerada pelos amigos e pessoas mais próximas como um ser pertencente a lugar nenhum.
Um outro ponto também importante a salientar acerca de A Hora da Estrela é aepifania, uma característica também marcante na narrativa de Clarice Lispector.Na novela em questão, tal característica pode ser ilustrada pelo momento em queMacabéa é atropelada, já que, a partir desse acontecimento, a personagem mergulha num profundo fluxo de consciência , desse modo, não sendo possível ao leitor construir um final concreto para a narrativa.
Apesar de ser antirealista por excelência, e nunca ser lembrada pela crítica por esse viés, pode-se dizer que , de certo modo, A Hora da Estrela marca uma quebra na escrita de Clarice Lispector, já que, é considerada por estudiosos como uma obra de caráter social, muito embora, a escritora o faça a partir da utilização do chamado engajamento introspectivo.É de acordo com tal contexto, que segundo a pesquisadora Ana Arguelho, embora o romance não faça conexões explícitas com o momento político, é possível sentir o clima em que os personagens transitam. Ainda de acordo com a estudiosa, Macabéa caminha na contramão do Brasil.Enquanto o país seguia “pra frente”, segundo a propaganda oficial, a nordestina não evoluía.
Um outro ponto da obra que também chama atenção, é o modo com Lispector constrói o narrador do livro, Rodrigo.S.M.,figura do sexo masculino,que não é construída por acaso, pois segundo a autora, é necessário que história seja narrada por alguém que não fraqueje, nem caia em lágrimas comovido pelo sofrimento da moça nordestina, que perpassa a novela com uma gripe de que nunca sara.É também através da figura desse narrador que Clarice Lispector ironiza as narrativas de folhetim do século XIX, gênero que promoveu cenas desmedidas de amor, e cuja principal finalidade era alienar o público feminino,e ,desse modo, promover a manutenção do sistema social patriarcalista.
Em suma, é possível observar que não por acaso, A Hora da Estrela é considerada por alguns críticos, sejam brasileiros, sejam estrangeiros, como um dos grandes livros do mundo. A explicação para tal consideração talvez esteja relacionada com o fato de a narrativa de Clarice Lispector estar muito além dos limites espaço- temporais, caracterizando-se ,desse modo, como uma obra de cunho universal.