A FOTOGRAFIA

 

Para Emerson e o “Moço”

Numa noite, Emerson mostrou-me a fotografia, na outra, entreguei-lhe o conto.

   

Oi, me chamo Danuza Lima. Sou estudante de Letras da Faculdade São Miguel. Sou devota de um bom livro e sinto um enorme prazer em escrever sobre a Literatura, seja ela nacional ou não. Tenho artigos publicados em revistas cientificas do estado e desenvolvo trabalhos voltados para a área de crítica literária. “A gente nasce para o que faz” não? Então tento dar aos mesmos textos o cheiro que sinto do céu, ou a textura das águas por entre meus dedos.

 

Para Emerson e o “Moço”

Numa noite, Emerson mostrou-me a fotografia, na outra, entreguei-lhe o conto.

   

Oi, me chamo Danuza Lima. Sou estudante de Letras da Faculdade São Miguel. Sou devota de um bom livro e sinto um enorme prazer em escrever sobre a Literatura, seja ela nacional ou não. Tenho artigos publicados em revistas cientificas do estado e desenvolvo trabalhos voltados para a área de crítica literária. “A gente nasce para o que faz” não? Então tento dar aos mesmos textos o cheiro que sinto do céu, ou a textura das águas por entre meus dedos.

Ele tocara aqueles ombros como se a carne possuísse algum portal para a felicidade clandestina, embora o outro acreditasse apenas em asas de borboletas, abraçou-o como se a água dos olhos marejados penetrasse a alma e buscasse no âmago do último e viril dos órgãos, a vontade e o cheiro do esquecimento do resto do mundo. Nada era decifrável, o inimaginável do mel dos sonhos amarelecendo a imagem parada. A foto ali fixada exalava aquele cheiro dos lençóis amarelecidos quase brancos como o céu à tardinha.  Daqueles olhos nunca caiam lágrimas, o mais eram as névoas de poder enfim encontrar o que havia perdido num tempo antes, um tempo onde o próprio tempo era marcado pelo cinza de um jardim sem raízes, sem folhas, sem frutos, sem cor, sem som, sem perfume. E o outro não podia enfim acreditar como num tempo tão claro e colorido pelos cheiros que agora sentia, conseguia lembrar do tempo em que o nunca ter desistido das asas das borboletas, de nunca saber se o perfume duraria, se o azul permaneceria… De um tempo em que ele fazia questão, embora não quisesse, de jogar as flores do seu jardim. Como aquele tempo fazia tanta diferença no novo refletir sobre as coisas do mundo? O perfume vinha dos perfumes do corpo, da nuca sobre o amarelo melado, adocicado de hortelã e alecrim, o som do limão queimando… Embora eles não acreditassem nas flores, o cheiro persistia… De onde vinha…? E aquela luz que transpassava o carinho? De onde vinha aquele amarelo queimado entre as pernas e os olhares doces sobre a sombra do abraço? Era possível encontrar a felicidade azul de um fim de tarde num parque com crianças, a textura de uma mão que passeou o corpo com carinho antes de estatizá-lo, eternizá-lo. Todo o som ritualístico de uma tarde misteriosa atrás da porta, dos suores surdos penetrados no som do velho rádio em cima do criado mudo, toda a propagação da difusão de sentimentos alaranjados, cor d’acre, limão queimando… E a sensação do futuro ser apenas o momento em que aquele presente tornar-se-ia tão somente uma recriação dos tantos carinhos roucos, dos tantos beijos soltos, dos tantos distúrbios loucos, dos tantos afagos dados…  Um momento onde tudo se tornaria tentativa de recriação da cena numa outra cena, os sentidos não conseguiriam recriar tudo, por mais que o carinho fosse eterno, as mãos fossem plumas, nada seria igual ao que aconteceu quando o sol cruzou as estrelas numa tarde amarela queimada ao cheiro de limão… No fim da tarde, caem folhas secas no quintal. “- Vai apanhar”… “– Quero não…” Até quando durará? “– Vê, é a esperança caindo no quintal!”. “– Não! é a felicidade brotando no nossoquintal”… “– E você não vai apanhar os frutos?”… “– Já brotou, já colhi.”…