Quando as máquinas dominaram geral: para música eletrônica se desabrochar ela precisou, necessariamente, de máquinas, equipamentos que fizessem a elaboração de tal e de homens que se comportassem como máquinas. Vestidos como robôs (calma, Daft Punk ainda não vem ao caso), diretamente da Alemanha, e manipulando exclusivamente máquinas para compor suas canções, Kraftwerk. Ou também da popularização da música eletrônica montada por eles naquela época quando David Bowie aderiu a todo o experimentalismo em torno da musicalidade dos alemães aqui em comento. A música eletrônica é feita de algumas sequências históricas. Que engraçado, não é? Influenciado pelo Kraftwerk, Bowie foi para Alemanha e criou a dita Trilogia de Berlim, junto com Brian Eno, que sempre foi chegado nas “máquinas de fazer música”, quando no ano de 1977, o produtor italiano Giorgio Moroder se juntou a Donna Summer para gravar o disco I Remember Yesterday.
Mas um disco de disco music? Não. A última faixa do disco seria, então, futuristica, estranha, sintetizada e dançante — para se ter uma ideia do próprio impacto que isso tornou na música universal, o próprio Bowie retrara que “Eno entrou no estúdio e disse: eu ouvi o som do futuro” e colocou “I feel love” para tocar. É esse o futuro ou sensação futuristica em que Moroder descreve em uma forma de depoimento, à lá Over the Border de Saint Etienne, na música “Giorgio by Moroder”, uma das maiores homenagens dos revitalizadores da música eletrônica contemporanea a um dos pais dessa vertente musical.
Revitalizaram ao regastar, a montar uma infra-estrutura dentro do que se vê hoje da música eletrônica. Foi-se o tempo que música eletrônica é sinônimo de beco underground. Daft Punk se consolidou como um ícone da música pop e — repito — revitalizaram o cenário com o seu quarto disco de estúdio, Random Access Memories, que resgatam em um caso de 13 músicas a grande força do início do cenário da dance music. Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem Cristo fizeram jus a todo oba-oba midiático que circulou em torno do álbum e do primeiro single, “Get Lucky”, e fizeram um disco de excelência, que não pode ser ignorado.
Caminhando entre um Daft Punk clássico, em canções que remetem Veridis Quo, como “Within”, “The Game of Love”, e um som bastante oitentista com colaborações de Nile Rodgers, do Chic, Giorgio Moroder, Panda Bear, Paul Williams, Todd Edwards, Julian Casablanca e Pharrell, a inteligência e perspicácia de Bangalter e Guy-Manuel, os homens por trás das jaquetas de motoqueiro e capacetes de robôs, está na união de tudo isso. Algo bastante até prevísivel, mas bem, foi de sample em sample, icones e icones, de máscaras a capacetes, em um disco simples, feito de referências e reverências, que indies e drag queens se renderam ao som dos robôs que revolucionaram a música eletrônica: Daft (by) Punk.