Planejamento sucessório e valores familiares: o que sustenta a longevidade das empresas familiares?

Empresas familiares são a espinha dorsal da economia brasileira. Representam mais de 50% do nosso PIB e geram cerca de 60% dos empregos formais, segundo IBGE e Sebrae. No entanto, apesar da relevância econômica, ainda enfrentam um desafio recorrente e, muitas vezes, negligenciado: a sucessão.

É comum que as primeiras gerações estejam tão concentradas na construção do negócio que posterguem a discussão sobre sua continuidade. Quando o tema da sucessão emerge — muitas vezes em momentos de crise —, já é tarde para evitar rupturas e conflitos. A ausência de planejamento sucessório e de mecanismos de governança familiar mina a longevidade de muitos empreendimentos promissores.

Casos conhecidos como os das marcas L Oréal, Porto Seguro e  Aché, com disputas entre membros da própria família levadas ao Judiciário, reforça o alerta: sem estruturas claras de decisão e solução de conflitos, o risco de judicialização e enfraquecimento da empresa é real. E o impacto vai além da esfera jurídica — afeta o patrimônio emocional, as relações familiares e a identidade do próprio negócio.

Nesse cenário, instrumentos como o Protocolo Familiar e o Acordo de Sócios ganham protagonismo. O primeiro, embora não regulado por lei, traduz a cultura e os valores da família, organiza as regras de convivência, e orienta as próximas gerações. O segundo, previsto na Lei das S.A., garante segurança jurídica nas decisões estratégicas da empresa.

Mas há algo ainda mais fundamental do que regras: os valores da família empresária. Eles sustentam o propósito do negócio e orientam as escolhas no longo prazo. Empresas que se guiam por valores bem definidos — e constantemente atualizados — conseguem atravessar gerações com mais clareza, resiliência e coesão.

Sucessão não é só um processo jurídico. É também emocional, cultural e simbólico. Planejar com antecedência é mais do que uma estratégia de gestão — é um gesto de maturidade, cuidado e responsabilidade com o legado construído.

Enquanto o direito se encarrega da estrutura, os valores se encarregam do sentido.

Por Pedro Príncipe – Advogado, sócio do escritório Portela Soluções Jurídicas

*Via Assessoria