Nos últimos dias, uma das temáticas mais importantes na área de comércio internacional é o posicionamento que o novo presidente norte-americano tem tomado em relação à aplicação ou não de novas tarifas. Acredito, pessoalmente, que esta é apenas uma ferramenta de negociação de que Trump tem se utilizado para, no fundo, conseguir outros interesses.
Sabemos todos que, em geral, as interferências do Estado prejudicam o comércio mundial. OU seja, quanto mais liberdade no comércio, mais eficiência haverá. Obviamente, toda generalização é burra, e, aqui e ali, é necessária, sim a presença e apoio do Estado. Meu entendimento sobre o novo Governo norte-americano é o de que eles também defendem a maior liberalização econômica, e por isto, é um contra-senso aplicar tarifas.
Tarifas chinesas
Por outro lado, acho importante também mencionar, o que pouco temos visto nas mídias, é o quanto a própria China, nosso tão importante parceiro comercial impõe de tarifas aos produtos que entram lá… Ainda mais, fora tarifas, outra prática comum, que também é um intervencionismo estatal, talvez até mais danoso que a própria tarifa, é o contingenciamento feito usando a ferramenta de cotas de importação, modelo bem comum no comércio com a China.
Mas, voltando aos EUA, o que o presidente Trump tem trazido à mesa é a questão de equidade… Se o produto americano, ao entrar em outros países, sofre taxação, por que os demais, ao entrar no EUA, não podem e devem sofrer também? A velha e conhecida questão da reciprocidade em direito internacional, que tantas vezes é vista como uma ferramenta de justiça, mas que agora tem sido criticada. Deixarei de lado o viés político, do que um ou outro esteja certo, talvez, ambos estejam errados e foquemos nos números.
Com base nas próprias informações de 2024, ao analisarmos os dados do MDIC, a relação comercial Brasil e Estados Unidos foi muito parelha. Exportamos um volume de USD 40,3 bilhões e importamos 40,5 bilhões. Ou seja, valores muito próximos. E quando falamos na pauta de exportação e importação, o que se entende por quantidade e variedade de itens, também são números muito próximos: 3.525 itens exportados e 3.698 itens importados.
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Só como modelo de comparação, com a China os dados são maiores e diferentes: exportamos USD 94,5 bilhões e importamos USD 63,5 bilhões. Já a pauta de exportação foi de 1.981 itens e de importação 4.035 itens, ou seja, está clara a concentração de itens na exportação, com um valor muito grande e preocupante. Só para exemplificar melhor, os 10 itens mais exportados para a China correspondem a USD 87,5 bilhões. Há clarmente uma necessiadae de acender um alerta na estratégia comercial brasileira com a China.
Mas olhando Pernambuco, os dados são ainda mais assustadores, e para os dois países em questão, os EUA e a China. Pernambuco exportou para o mercado estadunidense USD 203,5 milhões e importou USD 1,3 bilhões, seis vezes mais. Já sobre a pauta comercial, 245 itens exportados e 604 importados para este país, três vezes mais. Portanto, como podemos constatar, números já não tão equilibrados como os do parâmetro Brasil-EUA. E com a China? USD 28,3 milhões exportados por Pernambuco e USD 1,6 bilhões importados. Quase sessenta vezes mais! Quantos itens? 33 itens apenas exportados e 1.708 importados!
Concluímos com isto que qualquer tarifa, americana ou chinesa, impactará muito fortemente o fluxo de comércio pernambucano para estes destinos. Pois está muito clara a concentração de comércio entre Pernambuco e estes países! É torcer para que, como pessoalmente acredito, esta não venha a ser uma prática real do governo americano, apenas uma ferramenta de negociação, pois poderemos ter grandes prejuízos para a exportação de Pernambuco.
E, para concluir, fui perguntado dia destes se, como estas tarifas podem acontecer para produtos brasileiros, mas também para outros países, não temos uma oportunidade de nos beneficiarmos com o aumento destas tarifas para outros países, oferecendo o nosso como alternativa aos EUA? Gostaria de responder que sim, mas nossa flexibilidade e cultura de exportação é muito pequena, infelizmente, e por isto que levanto, há anos, a bandeira da internacionalização das empresas brasileiras!
*Gustavo Delgado é Consultor de comércio exterior de internacionalização de empresas, Diretor de OCCA, Diretor de inovação da ABDAEX, Coordenador de MBA em Comércio exterior, Coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia
*Via Assessoria