A moda do futuro não se limita à estética: ela será inteligente, funcional e, sobretudo, sustentável. O avanço da nanotecnologia vem permitindo que tecidos adquiram propriedades que há poucos anos pareciam ficção científica — como neutralizar odores, proteger contra radiação UV, resistir à água e ao fogo, e até auxiliar na regulação térmica do corpo. Mais do que um salto tecnológico, trata-se de uma transformação necessária para uma indústria que precisa repensar seus impactos ambientais e sociais.
A pesquisa que desenvolvi no curso de Design de Moda do Centro Universitário UniFBV Wyden, em parceria com a professora Manuela Correia, nasceu desse questionamento: como unir inovação e sustentabilidade na produção têxtil? O estudo, intitulado “Tecidos inteligentes: aplicações, benefícios, nanotecnologia e alternativas sustentáveis”, foi reconhecido como o melhor trabalho de Iniciação Científica no eixo “Visões do Futuro: Moda, Design, Cenários e Tendências”, durante o 20º Colóquio de Moda, realizado na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo.
O foco da pesquisa está em soluções que tornem o processo de produção dos tecidos inteligentes mais limpo e eficiente. Um dos caminhos explorados é o uso de corantes naturais, que substituem os sintéticos — altamente poluentes —, sem perder a performance tecnológica. O extrato de cascas de romã, por exemplo, além de tingir o tecido de forma sustentável, confere propriedades fotoprotetoras e antibacterianas. Já o extrato das folhas secas de teca mostrou-se capaz de aumentar significativamente o fator de proteção UV após o tingimento. Outro estudo abordado foi a aplicação de um nanocomposto híbrido de caulinita e dióxido de titânio, capaz de tornar os tecidos resistentes ao fogo com impacto ambiental reduzido em comparação a métodos convencionais.
Essas soluções demonstram que é possível aliar inovação e responsabilidade ambiental desde o início da cadeia produtiva. Ao reduzir o uso de substâncias tóxicas e otimizar os processos, a moda se aproxima de um modelo mais ético e consciente — sem abrir mão da tecnologia. É uma prova de que a sustentabilidade não precisa ser um conceito abstrato, mas pode estar presente em cada etapa, do laboratório à passarela.
A moda precisa assumir seu papel como campo de conhecimento e de transformação. Pesquisar é, nesse sentido, um ato de responsabilidade com o futuro. Espero que este trabalho inspire outros estudantes e pesquisadores a explorar o potencial da nanotecnologia e a repensar a relação entre moda e meio ambiente. Afinal, é pela ciência e pela troca de saberes que conseguimos transformar ideias em impacto real — na passarela, na indústria e no planeta.
Guilherme Albuquerque – Aluno do curso de Design de Moda do Centro Universitário UniFBV Wyden
*Via Assessoria