Segundo um levantamento realizado pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú, a pesquisa “Neurodiversidade no Mercado de Trabalho” mostra que quase a metade dos entrevistados nunca trabalhou diretamente com pessoas neurodivergentes; 21,4% tiveram experiências desafiadoras; e apenas 30% considerou ter experiências positivas. O estudo, que ouviu 12 mil profissionais e estudantes, também aponta que 75% dos brasileiros estão familiarizados com o termo “neurodiversidade”, o que inclui Transtorno de Espectro do Autismo (TEA) e outras condições, sendo 48,6% com conhecimento limitado. Outros 25% nunca haviam tido contato com a expressão.
Adultos neurodivergentes enfrentam grandes barreiras no mercado de trabalho, mas ambientes inclusivos e suporte adequado podem melhorar significativamente as suas oportunidades e o bem-estar. Segundo Geórgia Menezes, psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia pela UFPE e sócia do IAN – Instituto Harmonia e Neurodiversidade, é necessário dar um foco maior na importância de reconhecer os desafios dessa população e desenvolver estratégias de apoio. “Esses adultos têm taxas de emprego muito inferiores à população geral e até mesmo a outros grupos com deficiência”, explica. “Apesar do desejo de trabalhar e do impacto positivo do emprego na qualidade de vida, muitos enfrentam obstáculos desde o processo seletivo até a progressão na carreira”, conclui.
Em outro estudo recente dos pesquisadores e especialistas em autismo e inclusão social, Nancy B. Brown e David B. Nicholas, em artigo publicado na revista Neuropsychiatry, aponta que as dificuldades não se limitam ao mercado de trabalho. Segundo Georgia Menezes, cujo foco do estudo está nas experiências de jovens e adultos autistas, “a transição para a vida independente pode ser marcada por desafios em tarefas cotidianas, como organização do tempo, planejamento financeiro, gestão da casa e autocuidado”, exemplifica.
Esses obstáculos, de acordo com a psicóloga Georgia Menezes, não estão ligados à falta de inteligência, mas a diferenças cognitivas e sensoriais que afetam funções executivas, como planejamento, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. “Muitos adultos acabam relatando frustração, dependência familiar prolongada e barreiras para alcançar seus objetivos pessoais, o que reforça ciclos de baixa autoestima e isolamento social”, observa Menezes.
Para contornar essas dificuldades, Geórgia destaca o papel das estratégias práticas e dos apoios especializados. Entre as possibilidades estão o uso de ferramentas tecnológicas como aplicativos de agenda, lembretes e planilhas adaptadas, o treino de habilidades de vida diária, o acompanhamento psicoterapêutico voltado à autogestão e o apoio em rede, envolvendo famílias, clínicas e ambientes de trabalho conscientes. “O cuidado precisa ser multiprofissional e personalizado. Psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras e educadores podem, juntos, construir ferramentas que favoreçam a autonomia, sempre em parceria com a própria pessoa atendida”, conclui Geórgia.
Sobre o IAN – Inaugurado em 2025 no RioMar Trade Center, em Recife, o IAN é um espaço pioneiro no Brasil dedicado ao acolhimento e cuidado de adolescentes e jovens adultos neurodivergentes de Nível 1 de suporte, além de pessoas LGBTQIAPN+. Fundado pela psicóloga e neurocientista Geórgia Menezes e pela pediatra e psiquiatra Isla Queiroz, o instituto reúne clínica, pesquisa, educação e apoio à funcionalidade em uma abordagem transdisciplinar, centrada na pessoa e baseada em evidências científicas. Com uma equipe qualificada e também composta por profissionais neurodivergentes, o IAN oferece atendimento clínico integrado, formação profissional, apoio familiar e estímulo à autonomia, promovendo ciência, cuidado e cidadania. Mais informações: www.institutoian.com.br e @ianinstituto.
*Via Assessoria