Mais de 100 mil crianças não receberam nome do pai em 2022. Presença dos cuidadores no processo de desenvolvimento da criança torna-se uma marca fundamental, no campo social, emocional e comportamental
Nestes primeiros sete meses de 2022, mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai. Apenas 6,5% do total de recém-nascidos no país têm apenas o nome da mãe na certidão de nascimento. A porcentagem é maior que os 6% registrados no ano passado, quando 96.282 crianças das 1.586.938 nascidas não receberam o nome do pai. Em 2020, foram 1.581.404 nascimentos e 92.092 pais ausentes. Os números estão registrados no Portal da Transparência do Registro Civil.
Temos no Brasil uma marca cultural de abandono paterno com milhares de pessoas que nunca tiveram no seu registro de nascimento o nome do pai, e outros casos em que os filhos sabem quem é ou foi o pai, mas mesmo assim, esse homem nunca o reconheceu como filho juridicamente. A importância dos cuidadores no processo de desenvolvimento torna-se uma marca fundamental para assegurar e desenvolver habilidades no campo social, emocional e comportamental da criança.
“Quando esse pai deixa de assumir a sua função de suporte, orientação e auxílio com os seus filhos, podemos perceber marcas emocionais, que criam isolamento, bloqueio emocional, baixa autoestima, sentimentos de culpa e agressividade”, explica o psicólogo e professor do curso de Psicologia do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), Rafael Matias.
Muitas mães precisam de uma rede de apoio para poder dividir os cuidados, atenção e outras demandas que um filho necessita. Quando essa mulher não tem uma estrutura que dê um suporte para ela, as coisas se tornam bem mais complicadas em todos os sentidos. A família materna pode apoiar essa mulher – mãe auxiliando nos processos de cuidado, levando na escola, dando atenção emocional, orientando a criança no quesito social, dividindo as tarefas com ela para que essa mãe possa ter tempo para investir em outras atividades de sua vida, seja profissional, afetiva ou momentos de lazer.
“O que identificamos é que os avós tendem a ocupar esse lugar faltante na vida dos dois, e terminam suprindo várias carências apresentadas no decorrer da vida. Essa realidade é bem comum no Brasil, a ausência do pai biológico ser suprimida por outras figuras que são facilmente reconhecidas por essas crianças, já que toda filiação perpassa o campo afetivo, sendo biológico ou não, o que marca a vida de alguém é o dispositivo do afeto nas relações”, complementa o especialista.
Desde 2012, o procedimento de reconhecimento de paternidade pode ser feito diretamente em qualquer Cartório de Registro Civil. Assim, não é mais necessária decisão judicial nos casos em que todas as partes concordam com a resolução.
*Via Assessoria