Margot Robbie encarna uma Arlequina em busca da emancipação emocional com ajuda das “amigas” anti-heroínas com direito à muitas cenas de afirmação do empoderamento feminino com um mix de loucura
Por muito tempo Hollywood achou que para ser mulher e forte era preciso abrir mão do feminino. Depois do ensaio da mudança com “Mulher-Maravilha” e “Capitã Marvel”, “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” chega aos cinemas nesta quinta (06/02) para amarrar o conceito de “Girl Power”. O filme produzido e estrelado por Margot Robbie elabora a versão fetichista e glamourizada apresentada em “Esquadrão Suicida”. Ela vivia em um relacionamento abusivo com o Coringa, porém gostava da proteção e poder consequentes da sua submissão. A relação com as Aves de Rapina traz a consequência dessa busca pela identidade da anti-heroína sem o ex namorado, o que é uma das questões mais importantes do longa escrito por Christina Hodson.
O filme detalha a falta do Coringa. Assim, a personagem busca provar ao mundo a sua emancipação na maior demonstração possível de empoderamento feminino. A diretora Cathy Yan fez um ótimo uso da personagem, que narra a própria história, quebrando a quarta parede diversas vezes, e explica a dos outros para apresentar o incrível grupo de mulheres que se utiliza de muita violência para conseguir sobreviver. Espere por cenas insanas, cortes inesperados e flashbacks.
O grande conflito do filme gira em torno de Roman Sionis, o Máscara Negra, interpretado por Ewan McGregor, tentando conseguir um importante diamante. Além disso, ele quer matar a Arlequina pelo simples motivo de agora ela não ter mais a proteção do Coringa. É tão simplório que rapidamente ela o convence do contrário, mostrando que, em vez de brigarem, ela pode ajudá-lo a conseguir o tal diamante. Máscara Negra é um meritocrata de família rica que assume a síntese do homem em busca de poder que se submete a qualquer outro homem com mais poder. Ao que casa sua relação com Victor Zsasz (Chris Messina), mais amante do que capanga, o masoquista que festeja o seu sadismo.
O roteiro de Christina Hodson parece ter colocado o vilão apenas como imã para atrair as outras quatro personagens que dividem a trama com a Arlequina: Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) é uma agradável e firme cantora que trabalha para Roman; Renee Montoya (Rosie Perez) é uma detetive que parece ter saído de uma série policial dos anos 1980; A Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) é misteriosa, estranha e vingativa; Já a garota de rua chamada Cassandra Cain (Ella Jay Basco), é irritante como uma pré-adolescente, mas com habilidades em furtos e que acaba por roubar, sem querer, o diamante tão querido por Roman Sionis, juntando até então o improvável grupo de mulheres que se identificam na opressão sofrida por serem mulheres para batalhar contra o vilão.
A diretora Cathy Yan entrega cenas extremamente bem coreografadas e hipnotizantes, de lutas entre mulheres poderosas. O visual technicolor futurístico se mistura a uma Gotham suja faz o longa abusar de cores vivas e brilhantes, sendo esse recurso bem utilizados nas explosões e tiros dados em cena, como se o fogo e o sangue fossem vistos pela Arlequina como artifícios e purpurina. A fotografia somada à trilha sonora feita, majoritariamente, por vozes femininas faz o expectador ansiar por mais cenas de ação.
Nomes como K.K. Barrett (designer de produção indicado ao Oscar por Her), Erin Benach (figurinista de Drive e Demônio de Neon) e Matthew Libatique (diretor de fotografia indicado ao Oscar por Nasce Uma Estrela e Cisne Negro), equilibram luxo e decadência para captar uma Gotham que deixa para trás o gótico suave padrão vistos nos filmes antecessores como os da saga do Batman. O filme diverte e ao mesmo tempo abre novas possibilidades para as produções de super-heróis e heroínas da DC Comics.
Por Marta Souza