Na abertura de uma longa conversa ao telefone na manhã deste sábado (21), Fernanda Montenegro cita versos do poeta dos escravos. “Enfrentando mares revoltos, como diria Castro Alves”, diz, ao explicar como vem se sentindo desde a estreia de Babilônia, há uma semana. Na trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, ela é Teresa, uma das mais respeitadas advogadas do país que vive uma relação de quase 40 anos com Estela, papel de Nathália Timberg.
Após uma cena de um beijo apaixonado, logo no primeiro capítulo, o trabalho das atrizes de 85 anos se tornou o principal alvo de uma campanha que prega o boicote à novela, articulada pela Frente Parlamentar em Defesa da Família Brasileira. Na quinta (19), a Frente Parlamentar Evangélica divulgou uma nota de repúdio a Fernanda e Nathália. O texto, assinado pelo deputado João Campos (PSDB-GO) acusa a novela de trazer “de forma impositiva, para quase toda a sociedade brasileira, o modismo denominado por eles de ‘outra forma de amar’, contrariando nossos costumes, usos e tradições”.
“Não esperávamos essa reação. A situação toda do país está muito extremada, na discussão política e sobre comportamento”, espanta-se Fernanda. “Todos temos o direito de se posicionar. Não tiro o direito de ninguém. O problema é a radicalização desse pensar e no que ele pode se transformar. É caça as bruxas, de todos os lados.”
Na trama envolvente, crua e ambientada num Rio de Janeiro babilônico no qual a cobiça dá as cartas, Teresa e Estela são o exemplo de sabedoria, cidadania e honestidade, em oposiçã a personagens de caráter duvidoso, como o corrupto Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira). Numa cena do primeiro capítulo, ainda na fase passada em 2005, Teresa foi convocada pela escola de Rafael, neto de Estela, que andava contando aos coleguinhas sobre suas duas mães. “A cena já estava gravada quando, uma semana antes, um menino foi morto pelos amigos da escola por ser adotado por um casal gay”, pontua a atriz, em referência ao caso ocorrido no início do mês em Ferraz de Vasconcelos (SP). “Não vi ninguém escandalizado, não vi ninguém contestar e buscar culpados para a formação daquelas crianças, que mataram um colega de escola. E vão se escandalizar com o beijo casto de duas atrizes experimentadas de quase cem anos de idade?”, questiona a atriz do alto dos seus 60 anos de carreira em conversa com QUANTO DRAMA!:
Veja AQUI a entrevista com a atriz na Revista VEJA!
Fonte: VEJA.