Quatro olhos, fundo de garrafa. Não são poucos os apelidos depreciativos para quem convive com a necessidade de utilizar óculos devido aos chamados problemas de refração ocular. Por estes, entenda-se os casos de miopia, hipermetropia ou astigmatismo. O que nem todo mundo sabe é que os problemas refrativos são, quando não devidamente tratados, responsáveis por grande parte dos casos de deficiência visual. De acordo com estimativas globais, em 2010, as causas mais frequentes de cegueira foram catarata, erros refrativos (ER) e degeneração macular. Por perda visual moderada e perda visual grave, as causas foram os ER não corrigidos, catarata e degeneração macular.
A oftalmologista Liana Ventura escreveu o capítulo Refração Ocular: Uma necessidade Social, do livro oficial do Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado entre os dias 3 e 6 de setembro de 2014. Ela cita ainda outros dados, segundo os quais, nos países em desenvolvimento, tais como os da América Latina, os erros de refração não corrigidos representam uma das principais causas de deficiência visual, sendo considerados um problema de saúde pública. “Em estudos realizados no Equador e Brasil, esses erros são responsáveis por 30 e 72%, da incapacidade visual, respectivamente”, explica.
Mais de 12 milhões de pacientes na faixa etária de 5 a 15 anos apresentam deficiência visual por ER não corrigidos ou hipocorrigidos. Dados do IBGE (2010) revelam que, no Brasil, a prevalência e as causas de deficiência visual variam de acordo com o nível de desenvolvimento socioeconômico, existindo escassez de dados populacionais em várias regiões do país. “A prevalência de cegueira nos adultos, utilizando-se o critério de acuidade visual apresentada, foi de 1,51%, diminuindo para 1,07% após a correção do ER. Os erros refrativos eram a causa de incapacidade visual em 76,8% das crianças, em um ou ambos os olhos”, explica.
Erros refracionais (ametropias) não corrigidos para distância, incluindo casos de hipocorreção de erro refracional (refrativo ou refração) em países economicamente mais desenvolvidos, representam a principal causa de baixa de visão no mundo e a segunda causa de cegueira evitável, sendo superados apenas pela catarata. Em 2010, os ER e a catarata foram responsáveis por 54% das causas de cegueira e 71% das de perda visual moderada e grave (PVMG).
Quando não detectados e tratados, os erros refracionais limitam a função visual em graus que variam desde a perda visual leve até mesmo a cegueira, podendo levar a consequências imediatas ou a longo prazo. Em crianças, provocam prejuízo na aquisição do conhecimento, favorecendo a evasão e repetência escolar. O cálculo do número de anos vividos com perda visual moderada e grave (PVMG), ou até mesmo cegueira que as crianças terão pela frente, convivendo com a incapacidade visual, demonstra grande impacto na vida diária, com menor desenvolvimento físico, neuropsicomotor, educacional, econômico e comprometimento na qualidade de vida, havendo chances de se tornar um cidadão adulto com menos oportunidades de emprego, perda econômica do indivíduo, da família e sociedade e repercussão na qualidade de vida.
A correção dos ER requer medidas de saúde pública e intervenções simples e de fácil execução, e na maioria das vezes a incapacidade visual é reversível à terapia. “Eles podem ser tratados com o uso de óculos, lente de contato ou cirurgia refrativa. Os óculos são de baixo custo, não invasivos e eficientes.Quando comparados aos custos associados a outras morbidades oculares, os custos com o tratamento dos ER são substancialmente mais baixos”, afirma Dra.Liana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera, dentre as políticas de saúde pública, como de elevada prioridade o combate à incapacidade visual decorrente dos ER não corrigidos ou hipocorrigidos, sendo de grande valia o custo-benefício.
*Com informações da assessoria