O estilo de Clarice Lispector como um divisor de águas na literatura brasileira
A escritora Clarice Lispector surge na cena literária brasileira nos idos de 1940, quando aos 23 anos publica seu primeiro livro, o romance Perto do Coração Selvagem, impressionando não só leitores,mas também a crítica,já que, introduziu um estilo até então inédito no Brasil, o chamado livro sem história.É, dentro dessa perspectiva estilística, que a apoteóse de seus textos reside, justamente, na falta de grandes acontecimentos nas tramas.Ou seja, a progressão de suas narrativas consiste nos conflitos internos vivenciados por suas personagens e não na ocorrência dos fatos em si.
Pertencente à Geração de 45 do Modernismo, cujo contexto histórico, tanto mundial, quanto nacional, favoreceu uma a realização de uma pesquisa mais profunda em torno da linguagem,Clarice teve como característica marcante em sua obra a ênfase dada ao contorno psicológico das personagens.Para tanto, a autora utiliza o fluxo de consciência, recurso que vai além da análise psicológica, quebrando os limites espaço-temporais que tornam a obra verossímil.
Embora não seja um viés muito reconhecido pelos críticos,a crítica social pode ser reconhecida em determinadas passagens da obra de Clarice, tal contorno se constrói de modo muito particular e pode ser percebido na novela A Hora da Estrela.Nesse livro é narrada a história de uma moça nordestina,macabéa, de caráter simplório que “apenas vivia,inspirando e expirando”,transmitindo-nos a idéia de que aquela pode ser a história de Macabéa, mas de milhares de pessoas que deixam o Nordeste ou até mesmo seus lugares de origem à procura de melhores condições de vida e ,no entanto,em determinadas situações acabam se deparando com lugares “feitos contra elas”.
Um outro ponto importante a ser salientado acerca da autora de Água Viva é a epifania, espécie de instante de revelação vivenciado por suas personagens.Tal acontecimento se concretiza a partir do momento em que suas protagonistas se deparam com uma determinada situação cotidiana,mergulhando, assim, em um profundo fluxo de consciência e, dessemodo,passam a enxergar o mundo a partir de uma perspectiva muito particular.
Embora a narrativa de Clarice Lispector seja,em sua maioria, protagonizada por mulheres, não deve ser vista como uma literatura de caráter feminista, conforme se constata ao analisar-se o perfil das personagens.Para melhor assegurar tal afirmação, basta uma rápida pesquisa na biografia da escritora que embora fosse uma mulher independente,não apresentava,diferentemente de algumas de suas contemporâneas ,aversão às lides domésticas.
Assim sendo, é possível observar que a obra de Clarice Lispector deve ser vista como um divisor de águas nas letras brasileiras ,uma vez que a partir de sua escrita introduz um estilo inédito,lançando, desse modo, as bases para toda uma geração de escritores que surgiria posteriormente.É, por essas e outra razões que a obra de Lispector é considerada não só por leitores,mas também pela crítica como uma obra de caráter universal.