O palhaço ranzinza, trajado com vestes bufônicas funestas, domina o desiludido homem, que se deixa prender às cordas do maniqueísta animador. Ele domina não só o vendedor Bemvindo, como também a cena, ao deixar que o público – representando pelo vendedor de sapatos – brinque com ele, quando usualmente o contrário ocorreria.
Careta (o palhaço) despeja em seu “fã” suas mágoas, joga com seu passado, presente e futuro, prende em sua teia o até então frágil Bemvindo. O exagero nos trejeitos e voz do clown atrai o contido espectador, que agora encontra na figura bufante uma válvula de escape para seus problemas pessoais.
Mas, Bemvindo é um vendedor, e vendedores, assim como os palhaços, também iludem e em meio a estas ilusões confundem-se as figuras do divertidor e divertido. Uma reviravolta espetacular arrebata o espectador que agora se pergunta quem é quem neste picadeiro.
As atuações de Williams Sant’Anna (palhaço Careta) e Sóstenes Vidal (Bemvindo) convencem e a dupla – que também atua em “O Auto da Compadecida” – mostra-se bastante afinada, envolve o espectador com os personagens em questão e torna a peça intensa até o último segundo.
A produção impecável dá o toque final ao intrigante texto. Pontos altos para a cenografia e figurino, que só compravam que com bom gosto se faz um cenário leve e eficaz.
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