Na Babilônia, seus ramos era utilizados para decorar os ambientes dos famosos bacanais
Amado de acordo com a região do mapa, o coentro é um dos poucos ingredientes na cozinha com o qual se pode adequar a máxima ditada pela publicidade ufanista na época do regime militar brasileiro: Ame-o, ou deixe-o. Sim, porque coentro não é digno de meio termo, de insegurança em seu uso, exige pulso firme do cozinheiro em sua aplicação. Por aqui, nas plagas nordestinas, sobretudo pernambucanas, é utilizado de maneira bem natural. É produto imprescindível na feira de verdura do sábado. Sem dúvidas, faz parte da cartela de sabores e cheiros que o pernambucano distingue no escuro.
Mas antes do êxito irreversível, longa foi a sua trajetória. Sua origem remonta ao Oriente Médio, alguns escritos denunciam a ultilização da erva pelos egípcios, não como tempero, mas como planta medicinal. Já nos limites da China, coentro era sinônimo de imortalidade. Na Babilônia, seus ramos era utilizados para decorar os ambientes dos famosos bacanais – a época creditava-se ao coentro um poder afrodisíaco. Chegou à Europa por meio dos romanos que, segundo a Bíblia, já o agregavam ao cominho e vinagre para conservar carnes.
No Brasil, chegou junto com o colonizador. “O português levava sua horta para onde vivia, disseminador incomparável de espécies vegetais”, lembra o folclorista e historiador da alimentação brasileira, Câmara Cascudo. Uma erva que parece ter encontrado no Atlântico um ponto glorioso de sua trajetória. Em Portugal, receitas especiais levam a especiaria como ingrediente insubstituível. Do lado de cá, seu perfume verde, herbáceo, condimenta a comida praieira: peixes, camarões, lagostas, mariscos. Dá vida também a galinha guisada. Junto à cebola, realça o sabor da charque desfiada. Tempera o feijão do dia. Concede graça aquele vinagrete do churrasco. É emblemático no preparo da mesa de almoço pernambucana. Tem tanto apreço que, normalmente, é reservado um espaço só para ele dentro da geladeira. Aromático, requer redoma.
Mas coentro não é para todos. Paulistano, por exemplo, não gosta sequer de chegar perto da erva. Aliás, o condimento não apetece muito os paladares de quem vive em latitudes abaixo da Bahia. Para eles, bom mesmo é cheiro verde, um misto de salsa e cebolinha que tem o seu valor. Se nós tivemos uma influência lusa muito forte na culinária, eles tiveram a italiana e japonesa, na qual coentro não tem vez. Tá justificado. O importante é que por aqui ele é muito amado, alimenta até folclore. Quem conta é o escritor e historiador Mário Souto Maior. Vencer uma tarefa difícil para os nordestinos é o mesmo que “comer com coentro”. Menino traquino é “virado no molho de coentro”. De fato, coentro tem muita personalidade.