Quando os toques anunciando o inicio da peça, e as luzes do teatro se apagam, a do palco acende. Nesse instante, a atriz começa a encenação do clássico do escritor Eurípedes, Medeia.
Não conseguimos tirar os olhos da apresentação e ficamos atentos a cada palavra e coreografia da peça.
Mas de repente, do nada, a atriz pára tudo e, em momento de desabafo, começa a falar de sua vida pessoal. É nesse exato momento que nos damos conta que, na verdade, estamos assistindo a um espetáculo onde sentimentos como o preconceito, o ciúme, o medo e a competição ganham destaque ao serem vivenciados no palco. A Loba de Ray – Ban, a versão feminina do clássico.
A peça foi escrita em 1987, por Renato Borghi, o mesmo que escreveu a versão original O Lobo de Ray Ban, considerado um dos espetáculos mais marcantes do teatro brasileiro, protagonizado pelo saudoso Raul Cortez. A exibição atual também está sendo dirigida pelo mesmo diretor da montagem da década de 80, José Possi Neto – que manteve parte do elenco do primeiro espetáculo: Cristiane Torloni era esposa do protagonista enquanto Leonardo Franco era um jovem ator que se envolvia com Cortez.
Nessa adaptação, os papéis se invertem e Torloni vive o papel do falecido Cortez, sendo a personagem Júlia Ferraz, uma empresária que vive um triângulo amoroso com o ex-marido (Leonardo Franco) e sua amante, uma jovem atriz (Maria Maya). Os três personagens são atores e fazem parte da mesma companhia teatral.
Mesmo sendo escrita há duas décadas, os temas abordados ainda são tabus em nossa sociedade. Nada mais nada menos que abordar o fator honesto no relacionamento entre as pessoas. Um debate sobre a sinceridade dos personagens transparece por toda a peça, em paralelo com a paixão extremamente desenfreada pelo teatro que une os três. A relação homossexual entre a empresária e a jovem atriz é apenas um detalhe que cerca numa trama maior e, sobretudo, complicada.
No entanto, as interpretações, o cenário, a iluminação e a sonoplastia da peça fazem com que o público compartilhe com todos os sentimentos juntamente com os atores. Transformando o clássico em outro clássico bastante evoluído em sua versão feminina.